5.12.08

Confusões

Na entrevista concedida pelo Corcunda ao Manuel Azinhal, houve, entre muitas outras, uma frase que me agradou porque me fez pensar em tantas situações em que a tenho confirmado no meu dia-a-dia. A frase em questão é: “Quem combate os sintomas e não as causas está condenado a vida de trabalhos e resultados nulos”. A incapacidade de descortinar as causas advém da, por sua vez, incapacidade de distinguir o erro que no fundo é o erro do liberalismo erro esse que ele tão bem diagnostica no seu mais recente post, isto é, na sua recusa em estar ancorado num Absoluto. O homem do liberalismo é um homem que não existe, é um homem em que todas as obrigações resultam da sua opção livre e voluntária e nunca, por exemplo, do facto de estar inserido numa comunidade histórica que lhe é anterior e que ele não escolheu. Lembro-me duma frase de um senhor brilhante que dizia, e muito bem, “Não discutimos a Nação”. Quantas vezes oiço pessoas a lamentar-se da situação do nosso país, ou do governo que temos, mas que quando se lhes fala, ou tenta esboçar uma pequena comparação, com o Estado Novo imediatamente se eriçam e dizem: “Que horror!”. Creio que há algo de masoquista no neste permanente carpir mágoas sem no entanto ousar ir mais além e questionar aquilo que o originou. Ainda recentemente durante um jantar com amigos assistia impávido a este discurso de pessoas que lamentavam a actuação do governo bem como a inexistência de alternativas credíveis ao mesmo sem nunca se aventurar em ir para além desta triste “Taprobana”, isto é, de questionar o regime e os seus pressupostos. No meu caso pessoal o que me irrita é que muitas dessas pessoas sabendo-me monárquico, quando me ouvem criticar do regime e dizer que com ele é impossível esperar melhorias para Portugal, pensam logo que estou a referir-me à monarquia tipo “Democracia Real” (uma anedota!) e que a considero uma panaceia para os males de que enferma o nosso país, o que naturalmente pressuporia uma visão muito simplista da realidade. Quando lhes digo que até tenho mais admiração pela República Corporativa do que pela República Coroada, vulgo monarquia liberal, consideram-me “reaça” o que, de resto, me dá um imenso gozo. Creio que há pessoas que jamais compreenderão que a questão do regime não é de todo neutra e não resulta de uma opção estética, logo, mesmo colocando alguém de competente “ao leme” dificilmente esse alguém poderá fazer um bom trabalho sobre algo que está mal estruturado. Lembro-me de uma citação de uma frase de alguém, cujo nome não me recordo, que li em tempos num livro francês e que dizia “Dêem-me boas Instituições e dar-vos-ei boa política!”