26.11.07

Thermidor

Comemoraram-se ontem 32 anos da data do “termidor português”, o 25 de Novembro de 1975. Mais do que uma data que marca o estancar da rápida dinâmica totalitária abrilina (mas não o seu retrocesso infelizmente) ela é o início desta paz podre em que vivemos e que encerra igualmente uma dinâmica totalitária, se bem que “soft”. Sendo na altura criança não tive a noção exacta de tudo o que estava em jogo, recordo-me apenas de sentir os meus pais muito preocupados ao longo de todo aquele “verão quente”, de ouvir até às náuseas “Força, força camarada Vasco…” e de ver o meu pai a ouvir as notícias em português da BBC, tendo em conta que os meios de comunicação estavam todos controlados e mesmo a Rádio Renascença tinha sido presenteada com alguns obuses. Creio que, apesar de a tarefa do 25 de Novembro ter ficado incompleta (se isso fosse feito o regime seria ruído), todos temos uma dívida de gratidão para com todos aqueles que ousaram por termo aos delírios “prequianos”, que o louco Otelo e o camarada Vasco tão bem personificavam. Sintomático da matriz ideológica do regime, e apesar da dívida que este tem para com os homens de Jaime Neves, não há actualmente qualquer cerimónia comemorativa oficial. Afinal de contas o anticomunismo continua a ser tabu, o que não surpreende tendo em conta que uma sociedade atomizada gera regularmente posturas totalitárias, nomeadamente em meios académicos como foi o caso do Maio de 1968 e o referido pelo Gazeta quando revisitou a sua faculdade, ao levar os homens a aceitar facilmente que há um “sentido da história”, uma força superior que os rege. Enquanto tudo se mantiver como actualmente, isto é dentro de um paradima liberal, jamais haverá possibilidade de fazer quaisquer comemorações e, mais ainda, de se abominar tanto o o comunismo quanto nacional-socialismo.

23.11.07

Reflexões sobre o artigo "What is a Nation?"

Aproveitando um momento de insónias consegui finalmente terminar a leitura de um excelente artigo de Pierre Manent, aconselhado na famosa “Pasquinada” e cuja leitura muito me agradou. Ele é um bom complemento, como poderia ser uma boa introdução, do livro do mesmo autor: “La raison des nations”. Numa altura em que se assiste à tentativa fruste de “construção europeia”, isto é, na criação de um “Império europeu” o autor, com base em dados históricos, prova-nos que a Europa cristã nunca aceitou bem as duas únicas formas políticas que caracterizaram a Antiguidade Clássica: o Império e a Cidade. Isto porque com a entrada em cena do cristianismo as relações sociais, ao terem como referência o mandamento de Cristo de nos amarmos uns aos outros, alteraram-se profundamente surgindo então a necessidade de uma forma intermédia entre as duas anteriormente referidas: a Nação, cujo caminho vai ser aberto pela Instituição Real. Esta última torna-se assim num corpo intermédio, ou se se quiser, numa espécie de interface entre a nação, também ela feita do encadeamento de vários corpos intermédios, e a autoridade papal, que por sua vez vai buscar a sua a Deus. Ocorre-me imediatamente todo esforço diplomático do nosso fundador, D. Afonso Henriques coadjuvado por D. João Peculiar, junto de vários Papas desde Inocêncio II a Alexandre III para obter o seu pleno reconhecimento como Rei de Portugal, o que só lhe será outorgado por este último Papa com a bula “Manifestis probatum”. Outra função da Monarquia era por um lado de prevenir que a Igreja se imiscuísse no domínio temporal e por outro a de impor o respeito pelos mandamentos da Igreja. Não nos esqueçamos que um dos títulos do Rei de França era “Lieutenant du Christ”. O conjunto de todas as nações europeias constituía a chamada “Respublica christiana” e na qual os conflitos entre elas foram bastante raros. Outra função importantíssima da autoridade papal, e que o autor não refere pelo menos explicitamente, é a de sancionar o Poder Real, a de ser um absoluto, que legitima às leis que este fará, o que não significa de todo, contrariamente aquilo que os laicistas maldosamente afirmam, que este fique refém do Papa. Quando li esta parte do artigo lembrei-me daquilo que em tempos li no capítulo IV do “On Revolution” de Hannah Arendt a propósito desta necessidade de o poder se reportar a um absoluto. Oiçamo-la, então:
The specific sanction which religion and religious authority had bestowed upon the secular realm could not simply be replaced by an absolute sovereignty, which, lacking a transcendent and transmundane source could only degenerate into tyranny and despotism. The truth of the matter was that when the Prince “had stepped into the pontifical shoes of Pope and Bishop”, he did not, for this reason, assume the function and receive the sanctity of Bishop or Pope; in the language of political theory, he was not a successor but a usurper (….) Secularization, the emancipation of the secular realm from the tutelage of the Church, inevitably posed the problem of how to found and constitute a new authority without which the secular realm, far from acquiring a new dignity of its own, would have lost the even the derivative importance it had held under the auspices of the Church. (…)
The enormous significance for the political realm of the lost sanction of religion is commonly neglected in the discussion of modern secularization…

Foi a necessidade de suprir esta lacuna resultante da tragédia que foi a secularização, a primeira “libertação” na história da Humanidade, que levou as Monarquias a “divinizarem-se” o que por sua vez conduziu aquilo a que vulgarmente se designa por despotismo iluminado e que por fim abriu o caminho para as revoluções. Mesmo um discípulo de Satanás como era Robespierre se apercebeu desta necessidade de um absoluto e daí ter criado um “deus”, o Ser Supremo. Sem este absoluto (não confundir com arbitrário como é o caso muitas vezes), esta “força exterior ao sistema” como se diria em Física, que está igualmente submetido a um conjunto de leis predefinidas, tal como o comum dos mortais, não pode haver limitação de poderes entre, por um lado, o Rei e, por outro a Nação e só assim aquela frase de que tanto gosto e que melhor exprime o espírito da verdadeira Monarquia: “Nós somos livres o nosso Rei é livre”.
Creio sinceramente que este belíssimo artigo deveria ser distribuído aos associados das Reais Associações para compreenderem verdadeiramente o que é a Monarquia e, por isso, nunca se sentirem tentados em querer um”Príncipe da democracia” (Deus nos livre e guarde!)

16.11.07

Lido

Na recente edição d'"O Diabo" mais um belo artigo de Brandão Ferreira desta feita sobre as revoltas militares em Portugal. Nele se resume o essencial das revoltas militares em Portugal que, desde as invasões francesas e até à actualidade, nunca mais conheceu estabilidade política, visto que temos sido uma espécie de cobaias de instituições políticas que nos são espúrias, porque imbuídas de ideologia. No artigo há várias citações do séc. XIX e que são de grande actualidade o que de resto mostra bem a similitude entre a gangrena da partidocracia da monarquia constitucional e a actual, sendo naturalmente esta última ainda mais peçonhenta. Vou apenas citar uma delas que muito me agradou e que é de Ramalho Ortigão:
"Atolados há mais de um século no mais funesto dos ilogismos políticos, esquecemo-nos de que a unidade nacional, a harmonia, a paz, a felicidade e a força de um povo não têm por base senão o rigoroso e exacto cumprimento colectivo dos deveres de cidadão perante a inviolabilidade sagrada da família, que é a célula da sociedade; perante o culto da religião, que é a alma ancestral da comunidade; perante o culto da bandeira que é o símbolo da honra e da integridade pátria. Quebramos estouvadamente o fio da nossa História, principiando por substituir o interesse da Pátria pelo interesse do partido, depois o interesse do partido pelo interesse do grupo, e por fim o interesse do grupo pelo interesse individual de cada um."
É impossível ser mais claro do que se passa actualmente em que assistimos à agonia que tarda em terminar deste "cadáver adiado" que é esta maldita III República. Um artigo a ler este de Brandão Ferreira e que continua para a semana.

Virose

Em virtude de um virus informático estou desde há dois dias sem o meu computador no qual estava a escrever um post a propósito do texto de Pierre Manent, intitulado "What is a Nation?", que tanto me agradou. Espero que logo que o receba possa retomar a sua publicação. De momento estou a utilizar o meu pequeno portátil.

13.11.07

Frase

Em resposta ao pedido do Gazeta aqui vai a famosa frase retirada d´"A República" de Platão, livro V.

"- Agora na cidade que fundámos quais são, a teu ver, os melhores: os guardas que receberam a educação por nós descrita ou os sapateiros que foram instruidos na arte do calçado?"

10.11.07

Asco

Vi ontem o vídeo que o amigo Gazeta colocou no seu blog a propósito da profanação da Capelinha das Aparições levada a cabo por um grupo de hindus com o beneplácito do reitor do Seminário de Fátima e do Bispo da respectiva diocese. Confesso que mesmo sabendo o estado a que chegou a Igreja em Portugal ver aquelas imagens foi, para mim, algo de medonho. Que não haja dúvidas de que os piores inimigos de Cristo estão por entre o seu rebanho, os tais “lobos vestidos de cordeiros”, como por vezes tenho escrito. Este episódio evoca-me outro que me contou um casal ligado à Fraternidade em França, que se passou em Nantes, e no qual interveio um sacerdote da Fraternidade de S. Pio X, o Abbé Maret, actualmente em Lisboa. Na sequência da morte de um familiar deste casal no hospital de Nantes, eles muito naturalmente, manifestaram o desejo de mandar rezar uma missa. Acontece que a capela do hospital, em virtude de já não ter capelão, serve para vários cultos, facto esse que não causa qualquer engulho ao Bispo de Nantes. No entanto logo que este soube que se ia rezar uma missa de S. Pio V na referida capela a ordem veio célere do Episcopado proibindo-a terminantemente, sendo o referido casal obrigado a reza-la, se não me engano, num pavilhão dos bombeiros. É por estas e por outras que creio que o Santo Padre vai ter um longo e árduo caminho a percorrer para os expulsar da Igreja ou, melhor ainda, reconvertê-los catequizando-os e exorcizando-os.