30.6.07

Joe Berardo

Muito se tem falado ultimamente desta personagem que, qual Midas!, tudo transforma em ouro e todos deslumbra (nem todos) com o seu poder económico e a permanente ostentação que dele faz. A sua “aliança” com este governo, que os rasgados e patéticos elogios ao 1º ministro confirmam, é um perfeito exemplo da promiscuidade entre o poder político e a economia o que leva a que grandes empresas precisem de favores deste último para funcionar sem grandes riscos tornando assim os membros da nomenclatura do regime apetecíveis para as grandes empresas tendo em conta o “capital social” de que dispõem no meio político. Neste caso como é sabido estava em causa a aquisição pelo Estado da colecção do dito cujo. Não deixa de ser hilariante ver o deslumbramento alvar e boçal da equipe governativa que esteve presente em massa na inauguração da exposição do “argentário”, para utilizar a genial expressão de “Je Mantiendrai”, naquilo que foi uma espécie de cerimónia de “beija-mão”. Este comportamento é um reflexo deste mundo pós 1789 que privilegia o "ter" em detrimento do "ser". É-me impossível não deixar de pensar em Calouste Gulbenkian que dedicou toda a sua vida à aquisição de obras de arte e as considerava “suas filhas”, como se pode ler no hall de entrada do Museu Gulbenkian. Não creio que seja este o espírito que presidiu à aquisição da colecção Berardo, mas apenas o de investir em arte como quem investe em imobiliário ou na bolsa. Naturalmente não tenho nada contra a ascensão social pelo esforço individual porque é aí que reside o progresso material de uma nação, simplesmente este não deverá ser um fim em si mesmo mas tão somente um meio de alcançar uma maior perfeição moral na qual todos estão igualmente submetidos a um “dever ser”. Além disso o processo de burilar e aprimorar do espírito é algo que leva gerações mas que pode ser rapidamente destruído, por ex. com uma bala no foi o caso no fatídico 1 de Fevereiro de 1908. Como actualmente impor obrigações morais, o tal “dever ser”, é algo de impensável o enriquecimento passa a ser um fim em si mesmo, uma espécie de “nobilitação” laica, na qual pouco importa por que meios este foi obtido e que uso se faz dessa mesma riqueza. Basta pensarmos nas tristíssimas “elites” que povoam a “Caras” e “Olá semanário” e o estilo de vida que levam para se confirmar o que acabo de escrever.

27.6.07

Réprobo

Descobri apenas há cerca de um mês o blog Afinidades Efectivas por sugestão do Pasquim da Reacção que num dos seus posts nos remetia para a leitura de um post do primeiro. Confiando em absoluto nas sugestões do Corcunda foi com enorme satisfação que percorri essa páginas admiráveis de saber, de “raffinement”, de bom gosto e de erudição que me levaram rapidamente a inclui-lo nos meus blogs de eleição. Impressionou-me particularmente, durante a primeira visita que efectuei, a bandeira da Restauração (a verdadeira bandeira monárquica de Portugal) e as citações de Bonald, autor que estou a ler e que tanto me tem agradado, bem como as referências musicais. Mais recentemente, ao comentar um post do Interregno que o Réprobo também comentou, este teve a amabilidade de me enviar um abraço e de me lançar o repto de tentar descobrir a sua identidade. Confesso que fiquei simultaneamente surpreendido e tocado. Quem será esta nova estrela do “universo blogosférico” que me até me conhece? Descanse, caro Réprobo, que tudo farei para tentar desvendar a sua identidade, entretanto receba um forte abraço meu e continue a partilhar connosco o seu saber. Bem-haja.

11.6.07

Indignação

Tendo passado ontem pela Torre de Belém à hora em que decorriam as cerimónias do Dia do Combatente decidi aproximar-me da tribuna para ouvir alguns dos discursos proferidos. Quando lá cheguei estavam a terminar as orações e foi então anunciada a intervenção do Prof. Ernâni Lopes facto esse que me suscitou alguma curiosidade levando-me a ficar mais um pouco apesar de estar com alguma pressa. Começou ele a sua intervenção por referir que nunca tinha sido combatente em África mas que respeitava e admirava todos aqueles que tinha servido Portugal. Até aqui tudo bem, nada a dizer. Onde a coisa “começou a ficar preta” foi quando ele comparou a legitimidade do esforço de guerra empreendido por Portugal na defesa das suas obrigações históricas para com esses povos com os quais convivíamos há vários séculos, com a dos movimentos de “libertação” que, não nos esqueçamos, iniciaram a sua sinistra acção em 1961 em Angola esventrando mulheres grávidas e esmagando os crânios dos bebés contra a parede. O referido orador chegou mesmo ao ponto de dizer que ambos tinham encontrado recompensa para o seu esforço visto que, no primeiro caso, os ex-combatentes tinham defendido Portugal e, no segundo, na criação de Estados “independentes” que, segundo disse, “eram motivo de orgulho para os seus povos”. Confesso que perante semelhante dislate virei imediatamente as costas e fui-me embora. Como é possível um homem inteligente proferir tal afirmação? Sofre de ideologia? Será que não se apercebe que, para além do mais, está a insultar os ex-combatentes? Comparar grupos de terroristas que, como muito bem dizia Salazar, nada representavam nem tinham qualquer apoio nessas sociedades e cujo objectivo era aquele que está hoje bem patente no estado desses países, com o nosso Exército demonstra uma incapacidade estrutural de distinguir o Bem do Mal o que vindo de alguém que até vai à Missa é deveras preocupante. Isto é mais um exemplo daquilo a que o amigo Corcunda chamaria com toda a propriedade “Crenças estranhíssimas”. Somos, de facto, uma civilização em total diluição.

10 de Junho

Como é sabido comemorou-se hoje mais um Dia de Portugal. Num país que tem medo de si próprio e da sua história, como ainda há pouco o patético concurso da RTP o demonstrou, podemos muito bem interrogar-nos sobre qual o sentido de tal comemoração. Ao associar-se o 10 de Junho às outras efemérides ridículas (5 de Outubro e 25 de Abril) que este regime comemora transforma-se esta data, que deveria ser para todos nós portugueses que nos orgulhamos da nossa querida Nação velha de oito séculos e meio um motivo de verdadeira festa e de orgulho, num acto puramente perfunctório durante o qual se distribuem uns míseros “badalos da república” à já habitual “rapaziada” politicamente correcta. No fundo trata-se de mais uma festa bem narcisista na qual o regime, enamorado de si próprio, faz o seu próprio panegírico e nos tenta infrutiferamente imbuir desse mesmo espírito procurando levar-nos a cantar-lhe Hossanas pela, como dizia a velha canção revolucionária, “paz, pão habitação, saúde” que jorram diariamente a rodos para nosso deleite e inveja dos nossos parceiros europeus que muito justamente se interrogam como foi possível a este país ainda há pouco liberto da “longa noite fascista” ultrapassar mais esta “Taprobana” e alcandorar-se a níveis de bem estar e desenvolvimento nunca imaginados. Vivemos sob o peso da “insustentável leveza” da ideologia. Paz à tua alma, Portugal!