9.11.09

A perenidade do Muro

Como é sabido e tem sido falado pelos meios de comunicação, comemora-se hoje o 20º aniversário da queda do muro de Berlim. Confesso que não deixa de me divertir ver afluir vários dirigentes políticos a Berlim para comemorar o evento, sabendo que quase todos eles comungam dos mesmos princípios, ou pressupostos ideológicos, que estão na base do comunismo (ou não fossem eles democratas), tais como: a soberania do povo, o antropocentrismo, o relegar da religião para a esfera privada, o igualitarismo, entre outros e não pretendem questioná-los. Esta a razão pela qual a grande maioria dos políticos ocidentais, mesmo daqueles que se diziam de direita, sempre se mostrou incapaz de antever a queda do comunismo porque na realidade nunca o compreenderam, o que significa que no fundo o muro ainda não caiu dentro das suas cabeças e que o comunismo continua vivo. As várias derrotas que o comunismo sofreu (tecnológica, científica, económica), não podem substituir aquela que falta e que é a mais importante de todas: a derrota política. Esta por sua vez só será possível com a reconversão do homem moderno, algo do qual infelizmente ainda estamos longe. Aliás se analisarmos a elaboração dos regimes demo-liberais pós 1945 vemos que esta demonstra uma total incapacidade de tirar lições da história recente, ao persistir-se na criação de governos de facções, ou partidos políticos, isto é, a vulgar e depreciativamente designada “partidocracia”. Estes governos têm-se caracterizado pelo predomínio da ideologia social-democrata, associada ao sinistro estado-providência, e que levam à despolitização do Estado. O conjunto destes governos da movida social-democrata lançou-se no processo de “construção europeia”, um fuga para a frente. O actual beco sem saída ao qual chegaram a generalidade das democracias europeias é bem a imagem do homem moderno que ao querer bastar-se a si próprio, isto é, ao não querer reconhecer que o critério da Verdade é exterior à sua vontade, fica incapacitado de se libertar daqueles que são os seus mais terríveis tiranos: ele próprio e o pecado.
Termino com uma citação de Furet, do epílogo do seu célebre livro “Le passe d’une illusion” (1995) e que me parece de grande actualidade:

“La faillite du régime né en 1917 et peut-être plus encore le caratère radical qu’elle a pris privent en effet l’idée communiste non seulement de son territoire d’élection, mais aussi de tout recours : ce qui est mort sous nos yeux, avec l’Union soviétique de Gorbatchev, englobe toutes les versions du communisme, des principes révolutionnaires d’Octobre jusqu’à l’ambition d’en humaniser le cours dans des conditions plus favorables. (…..) Mais il n’atteint pas uniquement les communistes et les communisants. Au de-là d’eux, il oblige à repenser des convictions aussi vieilles que la gauches occidentale, et même la démocratie. A commencer par le fameux « sens de l’histoire », par lequel le marxisme-leninisme avait prétendu donner à l’optimisme démocratique la garantie de la science. Si le capitalisme est devenu l’avenir du socialisme, si c’est le monde bourgeois qui succède à celui de la « révolution prolétarienne », que devient cette assurance sur le temps ? L’inversion des priorités canoniques défait l’emboitement des époques sur la route du progrès. L’histoire redevient ce tunnel où l’homme s’engage dans l’obscurité, sans savoir où conduiront ses actions, incertain sur son destin, dépossédé de l’illusoire sécurité d’une science de ce qu’il fait. Privé de Dieu l’individu démocratique voit trembler sur ses bases, en cette fin de siècle, la divinité histoire : angoisse qu’il va lui falloir conjurer ».

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