30.1.09

Ainda a questão da Monarquia

Li com imensa satisfação o post do Corcunda “Algumas reflexões sobre o perigo da Monarquia”, devido ao seu rigor, profundidade e contundência. Podemos afirmar que o regime fruto das Guerras Liberais marcou o primeiro contacto de Portugal com uma democracia bi-partidária, fruto da Revolução Francesa e nele encontramos muitas das patologias que actualmente vemos no nosso sistema partidocrático da III República; a utilização do poder em benefício próprio por uma grande parte da classe política, o divórcio total entre o país real e o político, a compra de votos (caciquismo), centralização administrativa e crescente endividamento do Estado. No fundo ambos os regimes são fruto da ideologia, isto é, fruto de uma ideia pré-concebida da realidade e à qual se pretende adaptar o povo, alterando-lhe, ou tentando alterar, as suas características. São feitos para homens abstractos, todos iguaizinhos e intermutáveis, auto-suficientes no plano moral e, como tal, destituídos de uma relação a uma transcendência, visto que tal é visto como um fardo, como uma submissão intolerável. O corolário desta visão antropocêntrica do Homem é um regime assente na sinistra “vontade popular”, com todas as tragédias que daí decorrem. Oiça-se a propósito as sábias palavras de Leão XIII na sua Encíclica “Diuturnum” (Junho de 1881), sobre a origem do poder civil:

“…Recusar reconhecer a Deus como fonte do poder, é querer retirar ao poder todo o seu brilho e todo o seu vigor. Ao faze-lo depender da “vontade do povo” comete-se, antes de mais, um erro de princípio, e além disso apenas se dá à autoridade um fundamento frágil e sem consistência. Estas opiniões são um estímulo permanente às paixões populares, que se tornarão cada dia mais ousadas preparando assim a ruína pública e criando as condições para conspirações secretas ou sedições.”

Parecia que o Papa estava a adivinhar o que seria o fim da Monarquia Liberal e da I República (isto só para falar cá de Portugal). Se tivermos em conta que esta Encíclica foi apresentada em 1881, não está nada mal. Quanto às Monarquias existentes na Europa, e para não me alongar muito mais, basta pensar na naturalidade com que vemos os PMs desses mesmos países em confraternização com o Presidente francês, nas comemorações do 14 de Julho, ou nos ataques ferocíssimos à Igreja, e ao ensino católico (entre outros), por parte de Zapatero em Espanha, tudo sem que o Rei possa interferir. Estou a lembrar-me igualmente da ultra-liberal Inglaterra na qual o infanticídio pré-natal é permitido até às 24 semanas. Será isto o melhor para Portugal?

22.1.09

Mensagem do Duque d'Anjou

Recebi há pouco, enviada por um amigo legitimista francês, esta mensagem do legítimo herdeiro da Coroa de França, o Duque d'Anjou, "Luís XX", a prpósito do martírio de Luís XVI, que passo a transcrever na íntegra:


Mon Cousin [M. le duc de Bauffremont],
Mesdames et Messieurs,Chers Amis.
Les années passent et ne se ressemblent pas. Certaines sont plus joyeuses que d'autres. Le monde change mais certaines fidélités demeurent, telles que celle qui nous réunit pour le 216ème anniversaire de la mort du Roi Louis XVI.Dans l’époque de crise que nous vivons, où beaucoup de fausses certitudes d’hier sont en train d’être remises en cause, quel beau symbole de voir que nous savons encore nous retrouver autour de valeurs. En effet, au-delà de la personnalité si attachante de Louis XVI, notre premier devoir est un devoir de mémoire et de fidélité aux valeurs et aux principes incarnés par la royauté française. Telle est aussi la Mission que se donnent toutes les associations, groupes et organismes qui, comme l’Institut de la Maison de Bourbon se sont voués à cet objectif et que je tiens à remercier pour leur inlassable activité.Louis XVI par son sacrifice, mais aussi par sa vie qu’il a essayé de consacrer totalement au bonheur de son peuple reste pour nous tous un exemple. La lecture de son testament à la fois spirituel et politique doit toujours nous servir de méditation.Rappelons nous ses ultimes paroles, invitation à la bienveillance et au pardon. Par delà la douleur et la solitude qui furent les compagnes de ses derniers jours, il nous a fermement invités, comme son fils à qui il s’adressait, à «oublier toute haine et tout ressentiment ». Nous devons méditer ses paroles empreintes de respect humain et de tolérance. Dans le monde si dur et souvent si plein de pessimisme dans lequel nous vivons, ce message nous éclaire et nous renforce.Il doit nous encourager à conserver les repères que nous ont laissés nos aïeux, repères qui deviennent si importants au moment où le monde semble en manquer. Notre chance n’est elle pas de posséder une tradition vieille de mille cinq cents ans sur laquelle notre pays est construit ? Tradition qui s’incarne dans une famille dont j’assume actuellement les devoirs.Aucun de nous ne sait ce que sera demain, mais nous savons, en revanche, tous que cet avenir sera ce que nous en ferons, sans place à la ité. Il est ce que notre volonté voudra qu’il soit. Tel était bien aussi le message de Louis XVI qui, en dernier ressort, s’en est remis à la France dont il souhaitait qu’elle retrouve le sens de ses valeurs et de sa tradition.En ce début d’année, la Princesse Marie Marguerite, notre fille la Princesse Eugénie, et moi-même, nous vous assurons de tous nos souhaits pour notre Pays, pour vos familles et pour tous les Français éprouvés en grand nombre par les temps instables que nous traversons.Que tous les saints de France, que saint Louis, continuent à protéger la France afin qu’elle demeure la grande et puissante nation édifiée par la sagesse et la patience des Capétiens.

Louis de BourbonDuc d’Anjou
18 janvier 2009

Martírio de Luís XVI

À semelhança de anos anteriores este blogue não poderia deixar de assinalar a triste efeméride que representa para todos nós o martírio de Luís XVI. Tendo em conta que, tal como já aqui referi neste blogue, adquiri o “Livre noir de la Révolution Française”, decidi ir reler o capítulo referente à morte do Rei, o “Ungido de Reims”, como também lhe chamavam. Este crime satânico visou destruir, para além da pessoa do Rei e da sua família, a monarquia de direito divino, a França católica e monárquica, a nossa Civilização Cristã de tipo constantiniano e o princípio da Realeza sacerdotal de Cristo como pedra angular do edifício social e religioso do “Ancien Regime”.
Segundo o “Livre noir” são várias as consequências deste crime, e passo a citar, o capítulo escrito por Henri Beausoleil:

  • - “précipiter la nation dans les abîmes, fragilisant considérablement le pays dans ses assises les plus profondes…..
    - faiblesse drastique de l’exécutif en France de 1792 (instauração da República em França) à 1958, ayant beaucoup de difficulté à réiventer sa légitimité, aves des conséquences désastreuses dans la conduite des guerres
    - perte progressive de l’influence internationale de la France
    - le paradoxal repliement de la France sur elle-même
    - le poids exagéré de Paris devenu la nouvelle “tête” du pays après la mort du roi
    - l’évacuation progressive e radicale du spirituel dans la vie collectif du pays
    - la perte du repére masculin, structurateur, dans la psyche collective française
    - la perte du veritable sens de la liberte
    - la dépersonalisation des rapports sociaux
    - la survalorisation du conflit commme mode de résolution des problèmes de société
    - présence intempéstive d’une sorte d’ésotérisme égytianisant dans certaines constructions propres au nouveau regime (pyramide du Louvre)
    - triomphe de la nouvelle réligion et la prolifération de l’occultisme et de formes subtiles d’oppression sous couvert et hypocrite d’humanisme, d’athéisme, de laïcité et de racionalisme.
Acrescentaria para terminar que no nosso caso de Portugal, uma das consequências indirectas deste crime, foi as invasões francesas com todas as consequências que sabemos e sem as quais não é possível compreender o Portugal de hoje. Quando é que a nossa Civilização será exorcizada deste acontecimento?
Adenda: ao ir publicar o meu post apercebo-me do post do Corcunda, a propósito da tomada de posse de Obama, que acabo de ler e que, creio, de alguma forma, poder integrar-se nas consequências do acontecimento que motivou o meu post. Só povos crescentemente descristianizados, como é o caso dos europeus, é que podem venerar tal “rei” e assistir à tal “missa laica”, como muito bem lhe chama o Corcunda. Enfim, é o mundo moderno, ateu e materialista!

19.1.09

Utopias e ideologias

Uma das coisas que mais me diverte fazer é, em situações de conversa sobre política e quando oiço alguém lamentar-se do estado do país, tentar explicar que o regime está estruturado para o saque, nada havendo a esperar de melhorias no contexto actual. No fundo trata-se colocar as pessoas perante as suas incoerências, porque considero essencial que se definam politicamente, não sendo possível lamentar o descalabro do país sem questionar tudo aquilo que o possibilitou. Ainda recentemente falando com uma pessoa lhe dizia que, contrariamente à versão oficial, ditadura temos nós hoje na medida em que temos um regime no qual o poder é exercido em benefício próprio sendo fruto do nosso trabalho é transferido para os amigalhaços do poder por intermédio das derrapagens nos custos de obras públicas, estudos de consultadoria encomendadas a empresas de amigos, entre outros exemplos. Passado algum tempo essa mesma pessoa vem ter comigo e diz-me que eu não podia ser assim tão saudosista porque apesar da corrupção e todos esses aspectos lamentáveis que eu lhe tinha referido, eu não podia negar todo o imenso progresso que, segundo ele, tem havido. Ao que eu lhe retorqui que o modelo de crescimento adoptado é insustentável visto que o país está cada vez mais endividado, isto já para não falar de toda a profunda degradação moral e “desportugalização” que tem sofrido. O interessante em tudo isto é assistir à “luta” entre a ideologia (e a utopia que lhe está associada) e a realidade na mente de muito boa gente, sobretudo daqueles com maior formação académica, e que, por isso, foram mais submetidos à “formatação ideológica” que o ensino faculta. No caso de ser a ideologia a “ganhar” na sua mente a pessoa em questão tende a recusar o real, evitando a partir daí conversar sobre política e deixando de se lamentar sobre a situação do país, numa autêntica demonstração de autocensura, naquilo a que gosto de chamar “fenómeno anémona”, na medida em que a pessoa se fecha sobre si própria. A propósito disto lembro-me de uma passagem que li num livro de Jean-François Revel, “Le regain démocratique” (1992), num capítulo sobre as utopias, intitulado precisamente “Comment finissent les utopies” e onde se pode ler o seguinte:
“As utopias resultam da capacidade humana em projectar sobre o real construções mentais activas que podem resistir muito tempos às evidências, manterem-se cegas às catástrofes que provocam, mas que acabam por se dissipar sob a convergência do falhanço objectivo e do desgaste subjectivo. Mas o mistério é que o desgaste subjectivo, a perda de ilusões ideológicas, não é apenas a consequência directa ou imediata do falhanço objectivo. Ele pode sobreviver por muito tempo.”
Daí a persistência de um subconsciente marxista em muito boa gente, mesmo em pessoas que se consideram de direita. Esta capacidade de projectar “construções mentais” sobre o real resulta da necessidade que os homens têm de criar modelos para prever a realidade, isentando-se assim de responsabilidades. É por isso que creio que, no caso português, o “preço a pagar” para "a perda de ilusões ideológicas”, será o da bancarrota, algo que, tendo em conta o evoluir das finanças públicas nos últimos anos e o endividamento galopante do país, nada tem de surrealista. Acompanhemos então as cenas dos próximos capítulos.