28.10.08

Lido

Excerto de um belo texto retirado do capítulo IV do “Livre Noir de la Révolution française” intitulado “La Révolution intermittente” da autoria de Grégory Woimbée e que relata bem a forma como a Revolução evolui numa dinâmica de feita de antinomias.

“La Révolution “jacobine” fut le mythe d’une égalité censée produire, par la vertu généralisée, liberté et société et, voulant une réalité qui les produisit toutes (les libertés individuelles et collectives), elle célébra leur divorce. Le communisme estime que le bonheur social légitime une tyrannie « de transition » et finie par préférer sa tyrannie au bonheur lui-même qu’elle est censée édifier ; le libéralisme juge, au contraire, que le bonheur est médiatisé par une liberté d’indifférence et lui aussi finit par préférer le moyen à la fin. On pourrait renvoyer l’un et l’autre dos à dos, alors qu’ils n’ont été dans l’histoire contemporaine que face à face, et c’est même ce face à face cynique qui a déterminé les deux siècles qui nous précèdent. La Révolution a posé les jalons de cette opposition qui est sa polarité, son mouvement dialectique, sa coincidentia oppositorum. La liberté du libéral est toute psychologique, elle n’est historiquement qu’une volonté de puissance et sa dérégulation cache en fait la suppression d’un droit protecteur des plus faibles, c’est la survie d’une oligarchie adaptée au jargon démocratique. La société du communiste n’est pas plus concrète puisqu’elle se résume historiquement à la mise en place d’un système carcéral généralisé. Entre la prison et le droit du plus fort, le contemporain est écrasé : la tyrannie ou l’oligarchie, mêmes revêtues l’une et l’autre du nom de démocratie qu’elles revendiquent ensemble (libérale ou populaire), sont de redoutables régressions politiques, comme si l’homme fort de sa longue expérience n’avait su produire que des régimes certes sophistiqués quant au fonctionnement, mais terriblement primitifs quant au principe. »

Como nos diz, e muito bem, o autor destas linhas admiráveis a democracia é, de facto, profundamente primitiva e representa um enorme retrocesso civilizacional comparativamente à ordem jurídica do “Ancien Régime” na medida em que não está “ancorada” em nenhuma Verdade transcendente e daqui decorrendo que cada qual tem a sua noção de Bem mantendo-se o Estado neutro quanto a esta questão. Como não existe um Bem comum é o “povo soberano”, que é “omnisciente”, que o determina ao votar permitindo assim a ditadura da maioria sobre a minoria. Se a isto juntarmos a enorme facilidade de manipulação das massas que os modernos meios de comunicação conferem ao poder então estamos conversados quanto à ditadura. Quando é que nos libertaremos do PREC?

23.10.08

Ética republicana

Segundo ouvi há um bocado no canal TV5, o antigo Presidente francês, Jacques Chirac, está braços com a justiça tendo-se inclusivamente descoberto que possuía uma conta secreta no Japão na qual dispunha de um "pequeno pecúlio" de 300 milhões de dólares. Para adensar todo este mistério, soube-se igualmente que um jornalista que tinha descoberto a existência dessa mesma conta desapareceu misteriosamente sem deixar rasto. Com a plena consciência de Jacques Chirac faz parte dos "mais iguais do que os outros" e que por isso nunca irá para trás das grades, não deixa de ser notável que este assunto venha à superfície. Sei de um país em que tal jamais aconteceria, sobretudo quando se trata de um ex Chefe de Estado.

Os moderados

Um dos capítulos do livro que já aqui referi várias vezes e de que tanto gostei refere-se ao papel desempenhado pelos católicos liberais na “construção” europeia. Basta pensarmos nas duas figuras emblemáticas deste processo imbuído de ideologia laicista e, por isso, de descristianização, Konrad Adenauer e Jean Monnet. Um episódio interessante que nos é contado em relação ao primeiro e ocorrido em 1923 em Munique revela bem a sua postura política. Participando numa reunião de católicos durante a qual um cardinal, Faulhaber, exprimiu a sua tristeza pelo fim da monarquia, Adenauer, que presidia à reunião, levantou-se e afirmou “Compete-nos a nós católicos defender a República”. Isto causou um enorme escândalo e quase levou o referido cardinal a abandonar a sala. O que será que leva homens e mulheres de grande inteligência a deixarem-se “contaminar” pelo Mal tornando-se assim, e passo a citar, “vectores de contra-valores cristãos? Esta inversão dos fins como consequência do desvio de origem do seu pensamento em relação ao modelo o qual PENSAM inspirar-se, revela-se na sua incapacidade em apreender a mecânica própria das estruturas que lhes escapam.” Um autor que é referido no artigo (seria inevitável diria eu) e que teve um papel fundamental neste diluir das consciências, confundindo-as e tornando-as permeáveis a uma espécie de “messianismo profano”, foi Jacques Maritain. Foi em grande medida graças a este último que muitos católicos se “converteram” às teses funcionalistas e federalistas que tendem para a despolitização da Europa em detrimento da economia. Mas acima de tudo, e por extrapolação, o que este artigo me levou a pensar foi no papel desses mesmos católicos liberais cá em Portugal, não na queda da República Corporativa para a qual não contribuíram se bem que a desejassem, mas para a consolidação da actual República jacobina. Creio que a 1ª manifestação visível da sua existência foi a célebre vigília na Capela do Rato contra a “guerra colonial” e que na altura causou grande controvérsia. Este gesto é bem revelador da sua “contaminação” pelo Mal, e que se traduziu por uma grande hemiplegia moral visto que perante o horror dos massacres de 1961 estas alminhas não “tugiram nem mugiram”, estando apenas preocupadas com os “crimes” cometidos pelo nosso exército no contexto do conflito de pacificação dos territórios ultramarinos. Muitos destes “católicos” estão igualmente na origem da “Ala Liberal”, cujo surgimento apenas foi possibilitado pelo desaparecimento do Prof. Salazar, e que mais tarde vieram a fundar a o PPD/PSD (e respectivas dissidências como a ASDI) e o CDS/PP ou a ingressar no Partido Socialista formando aquilo a que mais tarde se veio a designar por “ala guterrista”. O próprio Prof. Cavaco Silva, que neste momento preside a esta república a que nos condenaram, é um belo exemplo do que acabo de referir, bastando para tal pensarmos no seu infrene entusiasmo “europeísta” ou na forma como comemora, tal como o socialista de triste memória Jorge Sampaio o fazia, a tomada do poder pela rapaziada da carbonária. É o PSD em todo o seu esplendor, o tal partido “laranja por fora e vermelho por dentro”. Muitos mais exemplos poderiam ser dados mas não vale a pena ser exaustivo.

16.10.08

Novo blogue

Acabo de saber da existência (por intermédio do Gdr) e de visitar o novo blogue do estimado Demokrata, "O Reaccionário". Um espaço que, estou certo, virá a ser de visita obrigatória para os defensores de um Portugal fiel a si próprio, isto é, a Cristo. Bem haja, caro Demokrata/Reacionário.

Para rir

Soube há um bocado que o Presidente Sarkhozy, a pedido da sua actual mulher e da sua cunhada, proibiu a extradição para Itália de uma criminosa e terrorista ex-membro das Brigadas Vermelhas, onde incorria em pena de prisão perpétua. Não nos esqueçamos que há alguns meses Carla Bruni numa entrevista se declarava visceralmente de esquerda, o que explica em grande medida a empatia por esta assassina. Que valores de “direita” terá este senhor para partilhar com esta senhora? Quando penso no célebre discurso de Sarkhozy na sua tomada de posse no qual exaltava “la France qui se leve tôt”, não posso deixar de soltar uma grande gargalhada. Tenho falado com muitos franceses que me têm feito parte da sua decepção ao constatar que o tão anunciado “ímpeto reformista” está aquém do esperado, sendo os ministros mais “ousados” nas suas intenções rapidamente chamados “à ordem”. Que imensa ilusão pensar o regime se pode auto-reformar! Lembro-me de uma frase de um livro que li este verão (que já aqui referi, “La culture du refus de l’ennemi”) e que por sua vez é uma citação do livro de Abel Bonard (membro da Académie française e Ministro da Educação do regime de Vichy) “Les Modérés” (1936),
"C’est une des lois les plus certaines de la politique que tout régime a un contenu d’idées et de sentiments qui, de son origine à sa fin, le forcent d’agir selon ce qu’il est (…) et que cette fatalité n’est jamais plus rigoureuse que lorsqu’il s’agit, comme s’est le cas pour la République Française (e Portuguesa acrescento eu !), d’un régime constitué dans les discordes civiles et né avec une âme de parti."

14.10.08

Análise certeira

Apesar de ter sido publicado n’ “O Diabo” da terça-feira da semana passada só anteontem consegui ler o excelente artigo do Prof. Soares Martinez, intitulado “As responsabilidades pela crise”. Um artigo que, para além da habitual clareza na exposição das ideias, me marcou pela profundidade de análise da tão falada crise financeira norte-americana, e que nos afecta a todos. Perante a gravidade da situação em grande medida fruto de irresponsabilidades e cupidez de agentes económicos, poucos são os que são capazes de ir ao âmago da questão, isto é, aos regimes demo-liberais actualmente vigentes na generalidade dos países europeus com a sua estrutural promiscuidade com homens de negócios e que como escreve, e muito bem o autor do artigo, “desde há sessenta anos que o poder político nos diz que os ciclos económicos e as suas crises eram coisas do passado, dominadas inteiramente pelos Estados demo-sociais, garantes de um progresso económico indefinido e de felicidades infinitas democraticamente distribuídas”. Perante a crise actual duas hipóteses se colocam: “Ou os regimes políticos vigentes, ao menos os ditos ocidentais, faliram estrondosamente, ou então sendo estes últimos válidos, a falha é dos estadistas, ou simulacro de estadistas, que os servem….as falhas generalizadas da gente que serve os regimes acabam por traduzir-se, fatalmente, em falhas insanáveis dos regimes, pois semelhante generalização só poderá significar a incapacidade definitiva dos próprios regimes para a selecção de governantes idóneos….falência dos regimes do demo-capitalismo desenfreado, com laivos socializantes, que tem feito as delícias dos comerciantes de golpe, atraídos para êxitos de curto prazo….Responsabilidades dos regimes que importará que sejam revistos profundamente. Responsabilidades dos estadistas, e simulacros de estadistas, que mal serviram os regimes. Responsabilidades dos tais homens de negócios golpistas que levando a melhor parte largas sobras deixaram aos tais estadistas, ou simulacros de estadistas, que, incapazes de cumprir a missão nobre de servir, apenas se serviram”. Creio que não é possível ser mais claro. O que temos nós tido no pós 25 de Abril senão simulacros de estadistas? Partilhando o ponto de vista do Prof. Soares Martinez, pergunto frequentemente a mim próprio, como, por que preço, por quem e com que legitimidade é que essa revisão profunda desses regimes, que acarretará inevitavelmente a sua queda, poderá ser feita? É esperar para ver.