Tenho estado a ler o livro “Em nome da pátria” de João J. Brandão Ferreira, autor que costuma colaborar com o semanário “O Diabo”, e cujas crónicas muito aprecio. O livro foi escrito com o intuito de dar a conhecer a verdade sobre a sequência dos factos relacionados com a questão ultramarina, se é que assim se pode chamar, e rebater muitas das teses veiculadas pelos opositores da República Corporativa, e que de resto constituem hoje a “verdade homologada” pelo regime, para justificar a insustentabilidade e a “injustiça” do conflito que travávamos no ultramar. Aliás logo na página nove podemos ler a quem o livro é dedicado, e passo a citar:
“À verdade histórica
Aos bons portugueses
Aos combatentes, soldados de Portugal
E para que, na eterna luta, o Bem vença o Mal.”
Até agora apenas li cerca de um quarto do livro e nesse quarto que li agradou-me muito o rigor da descrição do contexto internacional e nacional do pós-guerra. Para compreensão deste último, e como ele muito bem refere, há que recuar às invasões francesas, na medida em que a Constituição de 1933 é uma reacção, não só à República Democrática e jacobina mas também à sua precursora: a Monarquia Constitucional. Dá-me imenso gosto ver alguém que compreende plenamente o que foi a II República e que não cai na visão simplista de meter as três repúblicas no mesmo saco e de considerar a II uma ditadura. O livro põe bem em evidencia o esforço titânico de Salazar (e daqueles que com ele colaboraram) para, no fundo defender a nossa Civilização, dos ataques, quer externos (sobretudo no seio da ONU) quer internos, havendo a destacar neste caso o papel dos liberais (que como é sabido formaram a “Ala Liberal” durante a “primavera marcelista”) e que de resto estão na génese do actual PSD, e na da ala “guterrista” do PS. A História é pródiga em situações em que os liberais, ou moderados se se quiser, servem de “batedores do Mal”, ou “veículos de contra-valores cristãos” como li em tempos, pensemos por exemplo no caso da nobreza orleanista liderada pelo tristemente célebre Duque d’Orléans que era Grão-Mestre da maçonaria que acabou também por ser guilhotinado. Hoje divirto-me quando, perante o descalabro a que Portugal chegou, vejo muitos deste liberais a lamentar a situação do país sem no entanto serem capazes de esboçar um só plano minimamente exequível para a superar. A dívida de Portugal para com Salazar é, de facto, imensa.