8.11.06

Paciência para a tolerância

O Padre Nuno Serras Pereira escreve no nº2 da Alameda Digital:

(...)
E uma vez que cada pessoa só se realiza humanamente enquanto é responsável pelo seu decidir e agir, importa exercitar-se na tolerância para com os indivíduos que erram ou caiem (afinal, de algum modo, todos nós) na sua demanda da verdade e do bem.
(...)

Eu compreendo qual a intenção das palavras do reverendo, atendendo especialmente ao discorrer de todo o texto. Só não percebo o hábito, do meu ponto de vista errado, de se usar a "tolerância" parecendo não olhar ao seu significado. É que, de facto, tolerar quererá neste caso dizer que se aceita o erro na "demanda da verdade e do bem", porque dela faz parte como caminho a percorrer. Ora, parece-me ser precisamente o acto de tolerância para com esse erro que o torna aceitável na decadência civilizacional que atravessamos. Se a atitude tolerante concedesse contudo lugar à paciência, essa sim virtude cristã e reflexo da pedagogia do próprio amor divino ao homem pecador, tornaríamos as liberdades mutuamente responsáveis e concorrentes para o mesmo fim: a expressão da dignidade humana.
Tolerar acarreta sempre a admissão da existência do que é tolerado. No caso do erro de que o Padre Serras Pereira fala, conduz não à sua aceitação como condição transitória mas antes lhe confere aprovação em si e por si, descorando o seu carácter passageiro. Só aquela virtude da paciência, que espera confiante a conversão, é eficaz para alcançar o fim do Caminho que é a Verdade da Vida e a Vida plena da Verdade.

6 Comentários:

Blogger vs disse...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

11:27  
Blogger vs disse...

Caríssimo, e se alguém considerasse que o Simão não estava na 'verdade e no bem'?
E se alguém considerasse que o Simão está a defender o 'erro'?

Acha que esse alguém deveria ser 'intolerante' para o Simão?

"Tolerar acarreta sempre a admissão da existência do que é tolerado."

Se houve coisa que aprendi foi que as coisas (o que quer que seja) existem independetemente da nossa vontade.
Sempre assim foi, é e será.
O que cada um (individualmente ou em grupo) pode fazer é lutar pelo que lhe parece certo e tentar diminuir a influência do que lhe parece erróneo mas, acalentar a ideia de que se consegue acabar com a discordância e a divergência (algo que é Natural e que é intrínseco à condição humana, pois somos todos diferentes) é pura ilusão utópica.

E, já agora, que importância teria a 'verdade' se não existisse o 'erro'?
Que importância teria o 'bem' se não existisse o 'mal'?...e, finalizando, que importância teria tudo isto se não existisse o livre arbítrio (entendido com acto de escolha individual que, na prática, e por mais regulações que se imponham, existe sempre)?

"...na decadência civilizacional que atravessamos."

Não posso concordar, pois esta afirmação parece estar a tornar-se um lugar comum.
Independentemente do que cada um pensa sobre o actual Ocidente, o que se verifica à escala planetária é a difusão de um modo de vida, estar e pensar (o ocidental) sem paralelo na História. O Ocidente encontra-se presente em práticamente todos os cantos e recantos do planeta.
Se pensar bem na globalização, verificará com facilidade que o que se esá a 'globalizar' é, grosso modo (bem ou mal)....o ocidente.
(se calhar nem imagina o quão 'ocidentalizado' se enontra o mundo)
E este processo é tão real que é, em última análise, o que está a provocar alguma 'fricção civilizacional' que já se vê.

Ora, tudo isto não é compatível com a visão de 'decadência' e pode-se, quando muito, pensar que o actual 'modelo' que se está a 'exportar' é algo que não é muito bom ou com o qual não concordamos interiramente.

Cumprimentos

11:28  
Blogger SRA disse...

Caro Nelson Buiça

A tolerância é passiva. Ora a passividade é um acto de aceitação, ainda que por vezes inconsciente. Não se pode tolerar o erro porque este significa o mal actuante.

Se lhe disser que Deus não existe, fica admirado? Pois digo: Deus não existe. Deus É. O Amor É. O Bem É. O que é eterno não tem origem. O mal existe de facto, como consequência da ausência do bem. Portanto, a dependência mutua do Bem e do mal não tem lugar. Trata-se de uma visão filosófica em que, claramente, discordamos. O caro amigo considera a verdade subjectiva, mas esquece-se que a subjectividade anula a verdade. A decadência civilizacional passa também por aqui, desde 1789.

14:42  
Blogger O Corcunda disse...

Penso que o Padre Serras Pereira é insuspeito de ser um apologeta do "tolerantismo", sobretudo desde o momento em que foi achincalhado na imprensa por defender a excomunhão dos pró-abortistas. A tolerância de que nos fala parece-me ser a mesma que mencionei a proósito de Saddam. Só se deve punir na medida em que a pessoa constitua um perigo... O lugar de uma mulher que abortou não é no calabouço, mas a compreender o valor do Amor! Já os médicos e parteiras assassinas...

O Nélson utiliza sempre um argumento que é perigoso, típico da esquerda. Afirmar que existem perseguições pela Verdade não implica que estas não devam acontecer...
Se assim fosse não seria possível punir um ladrão anarquista, não é?
Ele dirá sempre que a propriedade é uma mentira...

Abraço a ambos

18:53  
Blogger SRA disse...

Caro Corcunda
Começo a entrada reconhecendo a intenção do reverendo. Sei o que quis dizer com aquela "tolerância". O que não percebo é o habito de usar o termo com significado diferente do que tem, e este é um caso paradigmático disso.

abraço

19:29  
Anonymous Anónimo disse...

Caro Simão,

A capacidade de combater no domínio dos significados é difícil, mas é uma das lutas mais importantes.
Vou escrever um post sobre o assunto...

O Corcunda

20:47  

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial