Tratado de Lisboa
Foi ontem assinada cá em Lisboa a versão II da “Constituição Europeia” habitualmente designada por Tratado de Lisboa. A ênfase dada a tal acontecimento pelos meios de comunicação é tão grande quanto o desprezo a que o votaram a maioria dos cidadãos dos diferentes países europeus que cada vez mais se apercebem que “aqui há gato”. Para além disso todo este processo tem permitido mais uma vez ao nosso excelso, genial, probo e nunca por demais incensado primeiro-ministro do qual tanto nos orgulhamos fazer jus aos seus méritos e provar à saciedade o quanto estavam errados todos aqueles que ousaram questionar a sua competência. Nada já nos surpreende neste país que vive numa realidade virtual. O que mais me divertiu foi ver ontem no Campo Pequeno um cartaz de propaganda ao dito tratado encomendado pelo governo no qual este chegou ao requinte de comparar o acontecimento de ontem com o “glorioso” 25 de Abril. No fundo, convenhamos, até não está mal visto. Em matéria de embuste estão bem um para o outro, ambos são feitos “para bem do povo”, ambos prometem um futuro radioso, ambos geram um Estado monstruoso, no entanto dispensam-se ambos de o consultar. É caso para dizer que lhes fugiu a boca para a verdade.
Penso que todo este sinistro processo de "construção europeia" tem o mérito de acelerar a crise desta coisa da qual todos falamos mas que no fundo não sabemos definir: a democracia representativa. Isto mostra igualmente que, apesar desta última ser habitualmente vista como a antítese de uma ditadura, na realidade ela própria é uma forma sinistra de ditadura na qual um povo é colocado como refém da partidocracia e através desta da classe política.