14.12.07

Tratado de Lisboa

Foi ontem assinada cá em Lisboa a versão II da “Constituição Europeia” habitualmente designada por Tratado de Lisboa. A ênfase dada a tal acontecimento pelos meios de comunicação é tão grande quanto o desprezo a que o votaram a maioria dos cidadãos dos diferentes países europeus que cada vez mais se apercebem que “aqui há gato”. Para além disso todo este processo tem permitido mais uma vez ao nosso excelso, genial, probo e nunca por demais incensado primeiro-ministro do qual tanto nos orgulhamos fazer jus aos seus méritos e provar à saciedade o quanto estavam errados todos aqueles que ousaram questionar a sua competência. Nada já nos surpreende neste país que vive numa realidade virtual. O que mais me divertiu foi ver ontem no Campo Pequeno um cartaz de propaganda ao dito tratado encomendado pelo governo no qual este chegou ao requinte de comparar o acontecimento de ontem com o “glorioso” 25 de Abril. No fundo, convenhamos, até não está mal visto. Em matéria de embuste estão bem um para o outro, ambos são feitos “para bem do povo”, ambos prometem um futuro radioso, ambos geram um Estado monstruoso, no entanto dispensam-se ambos de o consultar. É caso para dizer que lhes fugiu a boca para a verdade.
Penso que todo este sinistro processo de "construção europeia" tem o mérito de acelerar a crise desta coisa da qual todos falamos mas que no fundo não sabemos definir: a democracia representativa. Isto mostra igualmente que, apesar desta última ser habitualmente vista como a antítese de uma ditadura, na realidade ela própria é uma forma sinistra de ditadura na qual um povo é colocado como refém da partidocracia e através desta da classe política.

5.12.07

Terrorismo

A ETA atacou neste fim-de-semana, desta vez em França, assassinando um guarda civil e deixando outro em coma profundo. Para além da repugnância que tal acto nos merece o que está em causa é o fracasso total da política de diálogo de Zapatero que, na realidade, nada mais tem feito do que reforçar a referida organização. Com assassinos que apenas querem tomar o poder para o exercerem em proveito próprio não há diálogo possível visto que toda e qualquer concessão é por eles vista como uma fraqueza da nossa parte e que convém explorar. A História tem vários exemplos de situações nas quais, se tivesse havido firmeza e determinação, se poderia ter evitado consequências muito mais graves. Basta pensarmos, por exemplo, no silêncio da França perante a ocupação alemã do Ruhr, na política de apaziguamento de Chamberlain em Munique, na ingenuidade de Truman perante as promessas de Estaline, na política de “détente” levada a cabo por Willy Brandt (e também Olof Palme, um inimigo de Portugal que forneceu armas aos terroristas que se batiam contra a presença portuguesa em África) e à qual ele chamou Ostpolitik, isto só para citar alguns exemplos. Como a generalidade das “cabeças bem pensantes” é incapaz de tirar lições da história tudo isto de nada serve. Mas o problema é naturalmente mais profundo ele prende-se, a meu ver, com o fascínio que o fenómeno revolucionário, visto como uma caminhada de “libertação”, continua exercer no subconsciente de toda esta “fauna” mesmo por parte de muitos que não se consideram de “esquerda”. O terrorismo é inerente à dinâmica totalitária servindo, não tanto para destruir qualquer oposição, mas para a conduzir ao inventar uma oposição imaginária (o nobre emigrado durante a revolução francesa, o “inimigo do povo” durante a revolução bolchevique, o “fascista” ou a “reacção” no pós 25 de Abril, entre outros). Por detrás deste fenómeno estão, não os “pobres e oprimidos” de acordo com a vulgata muito em voga, mas intelectuais frustrados, invejosos e por conseguinte possessos de ódio contra tudo aquilo que dinheiro não compra: o bom gosto, a honra, a distinção, um passado familiar etc. Um belo exemplo disto é o regicídio, cujo centenário se comemora no próximo dia 1 de Fevereiro, e que foi perpetrado por uma organização terrorista, a Carbonária, montada por este tipo de personagens. Receio bem que ainda tenhamos que esperar algum tempo até que este facto se torne, na mente de toda essa “fauna”, aquilo que o é na realidade, isto é, ÓBVIO.