Sabedoria
Aguardando recentemente no aeroporto a saída das malas dos meus filhos tive o prazer de conversar com uma “mulher do povo”, uma peixeira da Nazaré, que viveu antes do “glorioso” e apesar de não ter tido a possibilidade de estudar, e talvez e em grande medida por essa mesma razão, tem dessa mesma época, tão denegrida pelos jornalistas “de agora”, uma grata recordação. Como é possível que uma vítima da “exploração capitalista” (algo que o “glorioso” erradicou para todo o sempre de Portugal, tendo introduzido no seu lugar algo de desconhecido na época, a “exploração estatal”) não dê “Hossanas” aos cravos? Contava-me ela que tendo feito parte do grupo folclórico nazareno, “Tá-Mar”, foi uma vez actuar a Sta Comba Dão para o então Presidente do Conselho. A visita, segundo me disse, confirmou a imagem que tinha dele: um homem simples, humilde e acessível. Imagem essa que contrastava com a que dele tinham muitos dos “doutores” (para utilizar a sua terminologia) com quem contactava ao vender o peixe, e que mais tarde já depois do 25 de Abril alguns deles, perante o descalabro de Portugal ao qual assistimos diariamente, tiveram a humildade de reconhecer o quanto estavam errados. Cada vez que tenho a possibilidade de falar com alguém com este “perfil sociológico” ocorrem-me as palavras de Cristo no Evangelho do passado dia 6 (Mateus XI, 25-30):
«Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque isso foi do teu agrado.»
Porque será que aquilo que é óbvio para esta senhora humilde não o é para os “doutores”? Qual o “segredo” desta empatia dos “pequeninos” pelo grande estadista? Creio que talvez seja essa a grande virtude de Salazar, a capacidade de ser simultaneamente enorme e mantendo-se sempre próximo dos humildes. Pergunto: quantos dos “conducatores abrilinos”, que no máximo terão direito a uma nota de rodapé num qualquer manual de história, poderão passar no “veredicto da história” vendo-se assim “libertos da lei da morte por obras valorosas”, como diria o nosso bardo quinhentista?