20.10.06

O bom e o mau senso

A nota pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa sobre o aborto acalma muitas almas inquietas nestes últimos tempos. O Policarpo assustou as hostes… e continua a assustar, enfim. Mas as palavras do arcebispo de Braga e este texto da CEP colocam algum bom senso na questão. A Igreja vota Não. É um Não revestido de um Sim à Vida e que, como bem referem os bispos, “não significa a concordância com a lei vigente”.
O juízo descamba contudo quando separa as águas da política das da ética:

5ª. O aborto não é uma questão política, mas de direitos fundamentais. O respeito pela vida é o principal fundamento da ética, e está profundamente impresso na nossa cultura. É função das leis promoverem a prática desse respeito pela vida. A lei sobre a qual os portugueses vão ser consultados em referendo, a ser aprovada, significa a degenerescência da própria lei. Seria mais um caso em que aquilo que é legal não é moral.

Concordo com a leitura d' O Corcunda, embora me custe fazer uma apreciação tão fechada do Opus Dei. Mesmo assim, estou em consonância quanto à denúncia da sociedade de cristãos versus sociedade cristã. Se a política não for precisamente o motor dessa sociedade da Ética, abrimos caminho para a relativização de tudo.
A visão da CEP é no entanto muito clara: a política é uma acção tecnocrata; as coisas da moral cabem à consciência individual. O CDS parece seguir a mesma linha, mas por questões meramente eleitorais. Trata-se de sobrevivência.