7.2.07

O vento nihilista (III)

O vento já não sopra de oeste. Acabaram-se as mitologias fecundadoras das éguas lusitanas e impulsionadoras de um puro sangue veloz. Agora vem do oriente, daquela Europa que construímos com sangue.
Invertemos tudo, importamos tudo. Esquecemos a filosofia para comprá-la a pacote. Chamaram-se afrancesados, embora goste mais de intitula-los de vendidos. Talvez seja por isso que ignoramos hoje quem somos. Perdemo-nos na amnésia geral.
Sopra o vento de Zaratustra mais forte que o de Zéfiro. Mesmo na mais duradoura tradição helenista se sente "o fumo de Satanás". A transmutação de todos os valores, a que leva à ausência de todos eles, internacionalizou-se pela destruição da intuição particular que os povos fariam, e faziam, da Verdade. No caso português, fez-nos descorar a matriz da civilização e da visão próprias que assentámos nas bases solidas da ontologia cristã.
Talvez um dia, quem sabe contrariando a convicção pessimista de alguns, quebremos o jugo da antropologia nihilista, e o antiteísmo passe à história como a origem de todas as tragédias.

Até lá escrevemos o tempo como um estado transitório, de esperança e saudade de futuro. Mas até lá, não corre rápida a pena de quem escreve sem que o vento se faça sentir na cara, amedronte os olhos e tente fecha-los. E só há um caminho para mante-los alerta: nunca ceder à tentação de semicerrar o olhar.

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