20.7.07

Lusofilias

Num post recente no qual, a pedido do Gazeta, falava das minhas leituras mais recentes referi este livro escrito por Paulo Ferreira da Cunha e editado pela Caixotim e que dá nome ao post. Descobri-o por meio de uma critica muito favorável que lhe era feita no semanário “O Diabo” pelo articulista Pinharanda Gomes. Nele se procura explicar a génese e a estruturação do “ser Português”. Vem isto a propósito de um tema infelizmente tão em voga que é o da “constituição europeia” que nos querem impor a todo o custo e que mais não é do que a versão actualizada, isto é sem violência física, de Napoleão e que passa pela destruição das referências históricas dos povos imbecilizando-os para melhor os poder dominar e fazer deles cidadãos de uma ficção a que pomposamente chamam “Europa”. Tal construção, visto que é feita de cima para baixo, é evidentemente uma utopia estando por isso condenada ao fracasso.
Apesar de ainda estar no início do livro gostaria de partilhar com os meus leitores algumas passagens do Prelúdio, que pressagiam seguramente uma excelente leitura, e que são de grande actualidade. Oiçamos, pois, Paulo Ferreira da Cunha:

“Só seremos verdadeiramente europeus se não nos impuserem (como já fizeram) horas germânicas, costumes nórdicos, e produtos espanhóis, e leis talvez em Esperanto. Os portugueses podem ser, no princípio, alunos bem comportados. Mas a breve trecho se darão conta que em si e nas suas tradições e na sua capacidade inventiva própria encontram melhores soluções (e a si mais adequadas) que as de formulário que lhes pretendem impor. Temos de contribuir para europeizar a Europa.
Perante a pressa de uma agenda europeia utopista, que parece pretender, com proclamações políticas e (pseudo)constituicionais, esconder a falta efectiva não apenas de uma Europa solidária e cultural como também (e antes de tudo o mais) de uma Europa com sonho e com projecto, sabendo que poucos europeus se entusiasmam pela mera proclamação cupulista de novas instituições, estamos nós portugueses a esquecer o mundo lusófono que é maior e menos preconceituoso e, nesse sentido, muito mais nosso.
Aliás, a nossa presença europeia sem a nossa vocação universalista e especificamente lusófona será sempre uma presença pouco criativa, receptora, e até subordinada. Foi o Mar que nos inspirou, foi o Mar que nos preservou da absorção ibérica, será também o Mar que, de novo, poderemos abrir à Europa, demasiado centrípeta e continental: porque se está a esquecer do Mar e do que pode ser para além de si.
Sabemos quanto mal adveio de se contraporem entre nós a política da continentalidade europeia à política marítima do sonho. Só compreendendo que elas são complementares encontraremos o nosso lugar. Mas entendendo bem essa complementaridade, desta vez: não para o simples frete de produtos e ideias entre a Europa e o Mundo. Antes para afirmar uma individualidade, no respeito pelas individualidades, cumprir Portugal na sua dimensão universalista.”

Perante este magnífico texto pergunto: Como poderemos nós integrar-nos num espaço que ao absorver-nos nos nega essa possibilidade de sonharmos com e pelo mar e, por conseguinte, de sermos nós mesmos? Quão longe estamos da sabedoria de um D. João II que afirmava que deveríamos “Conter o espanhóis em terra e dominar o Mar” (se a memória não me falha). Com políticos que desconhecem o que é Portugal ( a sua alma) e que este só pode “europeizar a Europa” se estiver seguro de si mesmo e tiver Instituições que verdadeiramente o sirvam porque elaboradas por jurisprudência para responder a situações concretas do dia-a-dia e em obediência a uma Lei Natural, como poderemos nós ficar tranquilos quanto ao nosso devir?

Entrevista do Corcunda

Por razões de ordem técnica (uma avaria no computador) estive ontem privado de Internet (um eternidade longe dos meus amigos blogosféricos!) o que me impediu de comentar mais cedo a entrevista do Corcunda. No entanto não gostaria de deixar de o fazer.
Apesar de estar habituado à qualidade dos textos do Corcunda ler algo de tão grandioso, um verdadeiro “monumento intelectual” como muito bem lhe chamou o Francisco Múrias, é sempre reconfortante por saber que ainda há Portugueses incondicionalmente fiéis à Nação. É impressionante como em poucas palavras se resume o que é verdadeiro pensamento conservador, sem hesitações, sem tibiezas, sem receios do politicamente correcto e com uma propriedade nas palavras, uma precisão na exposição das ideias e dos conceitos verdadeiramente exemplares. Felizmente que existe a blogosfera, por enquanto o único meio, que nos permite partilhar o pensamento do Corcunda uma vez que os media lhe negam essa possibilidade por ele estar em total “oposição de fase” em relação ao mundo moderno que, devido à ideologia, não o consegue compreender. Os acontecimentos encarregam-se e encarregar-se-ão de provar que tem razão.
É bom aprender com mestres assim. Obrigado.

17.7.07

Mais más notícias para os monárquicos

Falando hoje com um amigo dos Arautos d’El-Rei tomei conhecimento de uma “triste” notícia que nos deixa a nós monárquicos em "profunda tristeza": o desaparecimento do “Fórum da Democracia Real”. Depois da notícia revelada pelo “Pasquim da Reacção” da não eleição de um “monárquico” integrado nas listas do PCTP-MRPP, creio que é “dose para leão”. É caso para perguntar: “O que mais irá acontecer-nos?”
Um fórum que se caracterizou pelo politicamente correcto e que nada trouxe de novo para o debate de ideias condenou-se a si próprio. Ocorrem-me neste momento as belas palavras, já por mim citadas neste blog, de Bento XVI:

«É necessário, na vida pessoal como na vida pública, ter a coragem de dizer a verdade e segui-la, (e) ser livre em relação ao mundo ambiente que tem a tendência de impor as suas maneiras de ver e os comportamentos a adoptar»

Quando apenas se existe para difundir o pensamento dominante nos media e nada mais se traz de novo para o campo das ideias o melhor a fazer é de facto desaparecer. Quando se acha que a monarquia é apenas uma coisa gira e patusca e que apenas diz respeito à Chefia do Estado podendo o resto ficar tudo na mesma, que temos a esperar daqui? Paz à sua alma!

10.7.07

Salazar

Assisti hoje ao lançamento do livro de Jaime Nogueira Pinto dedicado a Salazar. A publicação desta obra vem na onda do famoso programa da RTP que tanta polémica originou. A apresentação da obra esteve a cargo de Marcelo Mathias. Considero excelente que cada vez mais se fale de Salazar para que, como disse e muito bem o autor, se possa colocar Salazar no seu devido lugar, isto é, na História. Compreender um homem da grandeza de Salazar pressupõe compreender o contexto no qual ele viveu, complicadíssimo e no qual muitos países europeus sucumbiram a regimes totalitários, mas ao qual ele sobe “dar a volta por cima” através de uma hábil política diplomática que nos manteve à margem da II guerra mundial (bem como indirectamente à nossa vizinha Espanha através do Pacto Ibérico) e que retardou a hecatombe das nossas províncias ultramarinas ocorrida em 1975. No plano interno, e apesar das condições nas quais encontrou o país após aquela sinistra I República, a sua obra de consolidação das finanças públicas é sobejamente referida. Muito tempo se passará até que se possa falar serenamente dessa personagem incontornável do sec. XX português sem visões estereotipadas e maniqueístas de quem divide o mundo em bons e maus, ou para usar a terminologia em voga, em antifascistas e fascistas que impossibilitam a compreensão da História. Lamento sempre que Salazar não tenha podido e/ou querido preparar o caminho para a restauração da monarquia, o que, penso, nos teria evitado o PREC e toda a sua dinâmica totalitária que tanto nos empobreceu. Claro que a questão da monarquia levanta logo a questão de saber em que moldes é que esta se faria. Daí talvez, e em parte, a razão pela qual esta infelizmente não se tenha realizado. Com todos os seus defeitos e virtudes temos todos como portugueses uma dívida para com ele. Bem-haja, António de Oliveira Salazar!

Leituras

Respondendo ao desafio do Gazeta aqui vão as minhas mais recentes leituras:

- “La vraie révolution” de Louis de Bonald
- “A posição de António Sardinha” de Luís de Almeida Braga
- “Anões e pigmeus da pátria” de Adulcino Silva
- Artigos retirados do site da Intercollegiate Studies de vários autores (Roger Scruton, Erik von Kuehnelt-Leddihn, Paul Kagan, Novak)
- Leitura semanal de artigos do semanário “O Diabo” de Prof. Soares Martinez, Brandão Ferreira, Godinho Granada
- “Lusofilias” de Paulo Ferreira da Cunha.

9.7.07

Quando é que acaba a democracia?

A pergunta formulada poderá surpreender muitos leitores habituados que estamos a ouvir diariamente venerar o “regime das cruzinhas” (como diria o Corcunda) como sendo o “state of the art” dos regimes mas ouvia-a recentemente a uma pessoa sem grande preparação intelectual com quem conversava a propósito do que se passa na Câmara Municipal de Lisboa. Acrescente-se que esta imediatamente completou a sua afirmação dizendo que uma ditadura não é desejável, mas o que se passa actualmente também não. A pergunta parece-me ser bem reveladora do que vai na mente do homem comum perante o espectáculo da política em Portugal e lembra-me uma outra pergunta que era colocada pelos portugueses pretos de Angola quando, poucos meses após a independência, perguntavam quando é que esta iria acabar. O terrorismo intelectual associado ao mito da “longa noite fascista” com que é designada a II República com o intuito de a denegrir e, indirectamente, desculpabilizar a actual III República leva a esta tensão interior, à incapacidade de compreender a situação actual e, pior ainda, a aceita-la com todo o seu cortejo de escândalos visto que, para a maioria das pessoas, o contrário do que temos é necessariamente sinónimo de ditadura. É absolutamente sinistro como se causa prisão mental e cegueira a todo um povo para melhor o poder explorar ao levar-se as pessoas a raciocinar em termos dicotómicos entre democracia e ditadura. É a ideologia em acção! Como é que poderemos sair deste impasse?