Lusofilias
Num post recente no qual, a pedido do Gazeta, falava das minhas leituras mais recentes referi este livro escrito por Paulo Ferreira da Cunha e editado pela Caixotim e que dá nome ao post. Descobri-o por meio de uma critica muito favorável que lhe era feita no semanário “O Diabo” pelo articulista Pinharanda Gomes. Nele se procura explicar a génese e a estruturação do “ser Português”. Vem isto a propósito de um tema infelizmente tão em voga que é o da “constituição europeia” que nos querem impor a todo o custo e que mais não é do que a versão actualizada, isto é sem violência física, de Napoleão e que passa pela destruição das referências históricas dos povos imbecilizando-os para melhor os poder dominar e fazer deles cidadãos de uma ficção a que pomposamente chamam “Europa”. Tal construção, visto que é feita de cima para baixo, é evidentemente uma utopia estando por isso condenada ao fracasso.
Apesar de ainda estar no início do livro gostaria de partilhar com os meus leitores algumas passagens do Prelúdio, que pressagiam seguramente uma excelente leitura, e que são de grande actualidade. Oiçamos, pois, Paulo Ferreira da Cunha:
“Só seremos verdadeiramente europeus se não nos impuserem (como já fizeram) horas germânicas, costumes nórdicos, e produtos espanhóis, e leis talvez em Esperanto. Os portugueses podem ser, no princípio, alunos bem comportados. Mas a breve trecho se darão conta que em si e nas suas tradições e na sua capacidade inventiva própria encontram melhores soluções (e a si mais adequadas) que as de formulário que lhes pretendem impor. Temos de contribuir para europeizar a Europa.
Perante a pressa de uma agenda europeia utopista, que parece pretender, com proclamações políticas e (pseudo)constituicionais, esconder a falta efectiva não apenas de uma Europa solidária e cultural como também (e antes de tudo o mais) de uma Europa com sonho e com projecto, sabendo que poucos europeus se entusiasmam pela mera proclamação cupulista de novas instituições, estamos nós portugueses a esquecer o mundo lusófono que é maior e menos preconceituoso e, nesse sentido, muito mais nosso.
Aliás, a nossa presença europeia sem a nossa vocação universalista e especificamente lusófona será sempre uma presença pouco criativa, receptora, e até subordinada. Foi o Mar que nos inspirou, foi o Mar que nos preservou da absorção ibérica, será também o Mar que, de novo, poderemos abrir à Europa, demasiado centrípeta e continental: porque se está a esquecer do Mar e do que pode ser para além de si.
Sabemos quanto mal adveio de se contraporem entre nós a política da continentalidade europeia à política marítima do sonho. Só compreendendo que elas são complementares encontraremos o nosso lugar. Mas entendendo bem essa complementaridade, desta vez: não para o simples frete de produtos e ideias entre a Europa e o Mundo. Antes para afirmar uma individualidade, no respeito pelas individualidades, cumprir Portugal na sua dimensão universalista.”
Perante este magnífico texto pergunto: Como poderemos nós integrar-nos num espaço que ao absorver-nos nos nega essa possibilidade de sonharmos com e pelo mar e, por conseguinte, de sermos nós mesmos? Quão longe estamos da sabedoria de um D. João II que afirmava que deveríamos “Conter o espanhóis em terra e dominar o Mar” (se a memória não me falha). Com políticos que desconhecem o que é Portugal ( a sua alma) e que este só pode “europeizar a Europa” se estiver seguro de si mesmo e tiver Instituições que verdadeiramente o sirvam porque elaboradas por jurisprudência para responder a situações concretas do dia-a-dia e em obediência a uma Lei Natural, como poderemos nós ficar tranquilos quanto ao nosso devir?
Apesar de ainda estar no início do livro gostaria de partilhar com os meus leitores algumas passagens do Prelúdio, que pressagiam seguramente uma excelente leitura, e que são de grande actualidade. Oiçamos, pois, Paulo Ferreira da Cunha:
“Só seremos verdadeiramente europeus se não nos impuserem (como já fizeram) horas germânicas, costumes nórdicos, e produtos espanhóis, e leis talvez em Esperanto. Os portugueses podem ser, no princípio, alunos bem comportados. Mas a breve trecho se darão conta que em si e nas suas tradições e na sua capacidade inventiva própria encontram melhores soluções (e a si mais adequadas) que as de formulário que lhes pretendem impor. Temos de contribuir para europeizar a Europa.
Perante a pressa de uma agenda europeia utopista, que parece pretender, com proclamações políticas e (pseudo)constituicionais, esconder a falta efectiva não apenas de uma Europa solidária e cultural como também (e antes de tudo o mais) de uma Europa com sonho e com projecto, sabendo que poucos europeus se entusiasmam pela mera proclamação cupulista de novas instituições, estamos nós portugueses a esquecer o mundo lusófono que é maior e menos preconceituoso e, nesse sentido, muito mais nosso.
Aliás, a nossa presença europeia sem a nossa vocação universalista e especificamente lusófona será sempre uma presença pouco criativa, receptora, e até subordinada. Foi o Mar que nos inspirou, foi o Mar que nos preservou da absorção ibérica, será também o Mar que, de novo, poderemos abrir à Europa, demasiado centrípeta e continental: porque se está a esquecer do Mar e do que pode ser para além de si.
Sabemos quanto mal adveio de se contraporem entre nós a política da continentalidade europeia à política marítima do sonho. Só compreendendo que elas são complementares encontraremos o nosso lugar. Mas entendendo bem essa complementaridade, desta vez: não para o simples frete de produtos e ideias entre a Europa e o Mundo. Antes para afirmar uma individualidade, no respeito pelas individualidades, cumprir Portugal na sua dimensão universalista.”
Perante este magnífico texto pergunto: Como poderemos nós integrar-nos num espaço que ao absorver-nos nos nega essa possibilidade de sonharmos com e pelo mar e, por conseguinte, de sermos nós mesmos? Quão longe estamos da sabedoria de um D. João II que afirmava que deveríamos “Conter o espanhóis em terra e dominar o Mar” (se a memória não me falha). Com políticos que desconhecem o que é Portugal ( a sua alma) e que este só pode “europeizar a Europa” se estiver seguro de si mesmo e tiver Instituições que verdadeiramente o sirvam porque elaboradas por jurisprudência para responder a situações concretas do dia-a-dia e em obediência a uma Lei Natural, como poderemos nós ficar tranquilos quanto ao nosso devir?