Assistimos na passada sexta-feira, perante o aplauso generalizado dos media, ao parto da versão recauchutada da “Constituição Europeia” a qual foi rebaptizada de Tratado de Lisboa (que vergonha, para nós portugueses, que a nossa capital fique associada a mais esse passo para o abismo). Este tratado é um instrumento essencial da “construção europeia”, uma forma de internacionalismo que visa destruir, sem violência física, a Europa ao “apagar” a história de cada povo e tornando-o gradualmente acéfalo facilitando assim a “marcha para a igualdade” que é a marca inconfundível da “cáfila pestilenta da pedreirada” (para utilizar a expressão de D. Miguel I). A Europa assemelhar-se-á cada vez mais a um “décor de Hollywood”, ou então será como que uma árvore que, apesar de ter um tronco em bom estado, já não tem seiva e, por isso, está morta. Ela é o mais recente produto do iluminismo, tal como o foram o comunismo e o nacional-socialismo, e que, como todos sabemos, tinham objectivos semelhantes se bem que utilizando meios violentos. Após ter tido conhecimento da triste notícia do parto fui reler algumas partes de um livro que é essencial para compreender este processo, “La raison des nations” de Pierre Manent, o capitulo do II livro “De la démocratie en Amérique” do “nazi-fascista” Tocqueville (cada vez que penso nele ocorre-me este excelente epíteto dado por alguém cujo nome de momento não me lembro) “Quelle espèce de despotisme les nations démocratiques ont à craindre” e dois artigos de Scruton, um o aconselhado pelo Corcunda na “Pasquinada”, “The dangers of internationalism”, e outro, “Combating Multiculturalism”, que descobri naquela fabulosa caverna de Ali-Bába que é o site
www.isi.org ao ir procurar o primeiro artigo. Manent alerta-nos para a cada vez maior crise da representação, do divórcio entre eleitores e eleitos, tanto mais que ao diluir-se a identidade de um povo está a impossibilitar-se a sua representação na medida em que não se pode representar algo que não existe, daí ele considerar que toda esta sinistra “construção europeia” é uma tentativa de construir uma kratos sem dèmos, sendo a ausência do dèmos suprida pela “Ideia da democracia”. Mas citemos Manent “O império europeu tem em comum com o império americano o facto de estar animado pela perspectiva de um mundo no qual as diferenças colectivas deixarão de ser significativas. (….) Ocupados a construir duas torres de Babel gémeas, não nos apercebemos de que a separação entre as várias comunidades nunca poderá ser totalmente ultrapassada, e que esta feliz incapacidade é a condição da liberdade e diversidade humanas”. Mas como é que se obtém esta igualdade? Diz-nos Tocqueville no referido capítulo “…cobre-se toda a superfície da sociedade de uma rede de pequenas regras complicadas, minuciosas e uniformes, das quais nem as mentes mais originais e nem as almas mais vigorosas se conseguem libertar; esta rede não quebra as vontades, mas amolece-as, submete-as e dirige-as; não obriga a agir mas impede constantemente que se aja; não destrói nada mas impede a criatividade; não tiraniza mas incomoda, cerceia, enerva, anula, embrutece e transforma cada nação num rebanho de animais tímidos e habilidosos, cujo pastor é o governo.
Eu sempre achei que esta espécie de servidão suave, ordenada e pacífica, que acabo de descrever, poderia combinar-se melhor do que se pensa com algumas formas exteriores de liberdade, e que não lhe seria impossível estabelecer-se associada à soberania do povo.” Ao ler isto lembro-me de uma conversa que tive em Aveiro com o proprietário de um hotel desta cidade e na qual ele se me queixou da quantidade de regras imbecis e imbecilizantes que os eurocratas de Bruxelas produzem com o objectivo acima referido (por exemplo, proibir a utilização de colheres de pau, de congelar carne, de colocar sacos com carne (ou peixe) congelados (adquiridos já congelados naturalmente) dentro de caixas de cartão para melhor gerir o espaço dentro do congelador, entre outras aberrações). Perante este arsenal legislativo corremos o risco, como nos adverte Scruton e à semelhança de do que se passou durante a Guerra de Secessão nos EUA (1861-65), de termos uma guerra “Civil” intra-europeia, uma espécie de “
Rebelião das massas” tão bem prevista por Ortega e Gasset neste seu livro ao quererem transformar-nos em “
Perros callejeros” (o último livro deste autor). Este seria (será?) para Brandão Ferreira, segundo um artigo seu publicado no passado dia 11 de Setembro n’”O Diabo, “A sexta guerra de independência” durante a qual nos libertaríamos desse buraco negro da malfadada União Europeia que, segundo ele escreve e muito bem, à medida que cresce torna-se cada vez mais numa “babilónia ingovernável”. Já para já batamo-nos pelo referendo utilizando a única arma de que dispomos: a blogosfera. Regozijo-me por saber que não estarei só neste combate e que poderei contar com o apoio incondicional dos amigos Gazeta e Corcunda.