Ainda a questão da Monarquia
Li com imensa satisfação o post do Corcunda “Algumas reflexões sobre o perigo da Monarquia”, devido ao seu rigor, profundidade e contundência. Podemos afirmar que o regime fruto das Guerras Liberais marcou o primeiro contacto de Portugal com uma democracia bi-partidária, fruto da Revolução Francesa e nele encontramos muitas das patologias que actualmente vemos no nosso sistema partidocrático da III República; a utilização do poder em benefício próprio por uma grande parte da classe política, o divórcio total entre o país real e o político, a compra de votos (caciquismo), centralização administrativa e crescente endividamento do Estado. No fundo ambos os regimes são fruto da ideologia, isto é, fruto de uma ideia pré-concebida da realidade e à qual se pretende adaptar o povo, alterando-lhe, ou tentando alterar, as suas características. São feitos para homens abstractos, todos iguaizinhos e intermutáveis, auto-suficientes no plano moral e, como tal, destituídos de uma relação a uma transcendência, visto que tal é visto como um fardo, como uma submissão intolerável. O corolário desta visão antropocêntrica do Homem é um regime assente na sinistra “vontade popular”, com todas as tragédias que daí decorrem. Oiça-se a propósito as sábias palavras de Leão XIII na sua Encíclica “Diuturnum” (Junho de 1881), sobre a origem do poder civil:
“…Recusar reconhecer a Deus como fonte do poder, é querer retirar ao poder todo o seu brilho e todo o seu vigor. Ao faze-lo depender da “vontade do povo” comete-se, antes de mais, um erro de princípio, e além disso apenas se dá à autoridade um fundamento frágil e sem consistência. Estas opiniões são um estímulo permanente às paixões populares, que se tornarão cada dia mais ousadas preparando assim a ruína pública e criando as condições para conspirações secretas ou sedições.”
Parecia que o Papa estava a adivinhar o que seria o fim da Monarquia Liberal e da I República (isto só para falar cá de Portugal). Se tivermos em conta que esta Encíclica foi apresentada em 1881, não está nada mal. Quanto às Monarquias existentes na Europa, e para não me alongar muito mais, basta pensar na naturalidade com que vemos os PMs desses mesmos países em confraternização com o Presidente francês, nas comemorações do 14 de Julho, ou nos ataques ferocíssimos à Igreja, e ao ensino católico (entre outros), por parte de Zapatero em Espanha, tudo sem que o Rei possa interferir. Estou a lembrar-me igualmente da ultra-liberal Inglaterra na qual o infanticídio pré-natal é permitido até às 24 semanas. Será isto o melhor para Portugal?