Utopia versus Realidade
Comprei ontem, após várias tentativas, a revista “Atlântico” deste mês devido ao artigo do Rui Ramos sobre o hipotético reformismo do Partido Socialista, tão consensualmente louvado na generalidade dos meios de comunicação mas que na realidade mais não é do que um “bluff”. O artigo faz uma resenha destes últimos 32 anos da III República e da forma como um partido quase desconhecido em 1974 (tinha sido fundado no ano anterior na Alemanha) se viu, fruto do golpe militar do 25 de Abril e, segundo o autor, da necessidade de fazer face ao projecto totalitário dos comunistas, catapultado para o poder sendo o seu principal inspirador. O PS confunde-se com o regime e, como a história no-lo mostra, é visceralmente avesso a quaisquer reformas da sua “menina dos olhos”. É, como diz Rui Ramos, o “verdadeiro partido conservador do regime”. No fundo o PS (porque será que este partido nunca se designou também por “português”?) sabe que reformar o regime é destruí-lo. O modelo de “Estado social” que ele impôs ao país por intermédio da Constituição de 1976, com o voto do PSD, levou à hipertrofia do Estado o que faz com que uma grande parte da população activa dele dependa directa ou indirectamente. Perante a ausência de verdadeiras reformas, como se pode constatar, entre outras coisas, pelo contínuo aumento da despesa pública, qual a alternativa no contexto actual? Voltar o PSD para o governo? O que é que isso muda? Nada. O regime do “bloco central” está totalmente esgotado e com ele a partidocracia que nos levou ao estado que todos sabemos. A história mostra-nos que ninguém abdica de privilégios de livre vontade. É por isso que, sendo o regime (com tudo o que isso implica) em grande medida a causa da actual situação do país, não pode ser a solução. A pressão fiscal já é esmagadora e desincentiva a criação de riqueza. Assistimos actualmente a um “braço de ferro” entre a ideologia do regime, a utopia igualitária, e a realidade. O problema é que, como dizia Revel: “uma utopia torna legítima uma desconexão entre as intenções e os actos. Ela permite exigir que sejamos julgados pelas nossas intenções e não pelos actos.” Quando penso nas promessas maravilhosas do pós 25 de Abril de que iria “correr leite e mel” e o estado a que o país chegou compreendo bem esta frase de Revel. Continuo a perguntar: quão fundo teremos de descer para que finalmente algo seja feito?
2 Comentários:
E o pior é que,seja para que lado nos viremos,não se vislumbra sequer a menor vontade reformista, que restitua aos portugueses a esperança de que tanto carecem...;os nossos políticos-todos-foram atingidos por insuperável descrédito.
Exacto, cara Cristina. Os políticos e os media estão "hipnotizados" pelo prestidigitador e "mago" Socrates. E assim caminhamos "gemendo e chorando neste vale de lágrimas" para o abismo.
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