19.4.07

Partidos e patidocracia

Tenho acompanhado com bastante interesse o debate blogosférico entre os amigos Corcunda e GdR a propósito da existência ou não de partidos políticos. Após ter lido os dois pontos de vista expressos creio que talvez seja possível chegar a um consenso entre eles. Como todos nós sabemos existe hoje em todos os países europeus, em maior ou menor grau, uma crise de representação devido ao facto de esta ter sido usurpada pelos partidos que se tornaram autênticas agências de sinecuras e que limitam a participação na gestão da res-pública aos cidadãos. A própria democracia tendo em conta que, por definição, é representativa transfere automaticamente e na totalidade para os partidos o monopólio da nomeação dos cargos políticos o que, ainda para mais, é um excelente factor de tráfico de influências. Ao procurar-se estabelecer-se uma autêntica representação da diversidade da Nação, naturalmente dentro do respeito e na procura do Bem comum como referiu o Corcunda, tem que haver representação de todos os corpos (associações, municípios, sindicatos) e aos quais se poderão juntar os partidos. Partidos que, neste caso, mais não serão do que associações, devendo ser colocadas num plano de igualdade com todas as outras, e cujos membros partilham, por exemplo, uma determinada concepção da organização económica do país e nunca agências de empregos. Isto para evitar o que temos actualmente em que os partidos detêm o monopólio da representação politica. Neste caso em que os partidos estão cerceados não vejo porque não possa ser possível a sua existência visto que não estamos a questionar a Nação nem a sua integridade mas apenas a dar voz a uma sensibilidade. Todas estas associações se encimadas pelo “Pendão real”, como diria Luís de Almeida Braga, não poderão, em princípio, ficarem donas da res-pública. Penso que dentro destes parâmetros talvez seja possível compatibilizar os dois pontos de vista. Se disse alguma asneira o amigo Corcunda corrigir-me-á.

14.4.07

O dito por não dito

Soube ontem que o social-democrata Cavaco Silva, que preside a esta república, durante uma visita à Estónia manifestou o seu desagrado perante a eventual realização dum referendo à “Constituição europeia”. Após se ter manifestado em tempos pela realização do mesmo até porque, como disse, essa era uma promessa eleitoral e que deveria ser respeitada para não descredibilizar ainda mais a classe política, vem agora dar o dito por não dito não vá o diabo (entenda-se o “povo soberano”) tecê-las. Estes democratas sempre me divertiram e no fundo são bem a imagem da fraude democrática. O tão referido “povo” só interessa quando vota como convém. Quando se trata de eleições normais em que os candidatos são previamente escolhidos pelos directórios da partidocracia nada há a temer, mas no caso de um referendo esse “enfant terrible” do povo é imprevisível, daí o interesse em banir o refendo. Ficaram escaldados com os exemplos francês e holandês. Lembro-me de quando por sugestão Lionel Jospin e António Guterres Bruxelas aplicou sanções à Áustria por esta ter no seu governo membros dum partido dito de extrema-direita. Confesso que me diverti quando Jospin foi banido das presidenciais francesas em 2002 por Le Pen.
Que terá esta sinistra construção europeia de tão apelativo para os políticos, e tão pouco para os eleitores ao ponto de os primeiros estarem dispostos a todas as manigâncias para a conseguirem? Trata-se a meu ver de processo clássico de centralização de poderes, anti-subsidiário e, por isso mesmo, jacobino. Roubar poder às bases e por as massas a delirar com grandes discussões metafísicas que não levam a nada porque, como já disse, os representantes a eleger são previamente escolhidos. Concomitante a este fenómeno é o exponencial aumento da despesa pública, como nós sabemos cá em Portugal, o que levará inevitavelmente à criação de um “monstro” europeu que devorará a própria Europa, tal como o Estado cá em Portugal está a devorar todo o tecido económico devido ao aumento constante da carga fiscal. Quanto à “construção europeia” confesso que estou optimista que a mesma acabará inevitavelmente por soçobrar porque, entre outras razões, a situação “pré-vulcânica” da França, que é um autêntico barril de pólvora, não confere a estabilidade política necessária à continuação do mesmo. Depois do que se passou neste país não creio que o próximo presidente francês ouse tentar fazer passar a “constituição” no parlamento e, em caso de novo referendo, o eleitorado recusá-la-á novamente. A juntar a isto o facto, mais do que provável, que a França venha a conhecer fortes surtos grevistas que a irão bloquear economicamente logo que o governo do próximo presidente comece a tentar fazer algumas das tão necessárias como proteladas reformas que o regime no fundo não permite fazer. Fiquemos, pois, descansados que a “socialist wonderland” (como lhe chamam no blog euro-céptico britânico “The road to euro-serfdom”) acabará por se estatelar.

12.4.07

Infanticídio pré-natal

Tal como era previsível Cavaco Silva promulgou anteontem a autorização de extermínio de inocentes a pedido da mãe até às 10 semanas vindo assim a dar mais um rombo na ilusão daqueles que ingenuamente pensaram que finalmente tínhamos um presidente de “direita”. Os exemplos têm sido vários desde a promulgação da lei da “Procriação medicamente assistida”, a forma como comemorou o golpe de Estado do 5 de Outubro imitando o socialista Jorge Sampaio, a aprovação da “Lei da Nacionalidade”, a estúpida “Lei da paridade” que é um insulto às mulheres portuguesas e agora esta hedionda lei do aborto fazendo “ouvidos de mercador” a todos os pedidos para que a vetasse. Cavaco enganou muito boa gente, entre a qual tenho alguns bons amigos, ao jogar no dúbio e fazer crer que era uma de uma certa cor política, que o seu historial poderia levar a pensar, quando na realidade era o “candidato oficioso” do PS, como o facto de ter por mandatário da campanha o mesmo de Sampaio deixava antever. A preocupação por ele manifestada de que se mostrasse uma ecografia à mulher grávida que pretende abortar parece-me uma tentativa fruste acalmar a ira dos defensores do “não”. Ocorre-me, neste momento, o exemplo notável do antigo monarca belga, o Rei Balduíno, que abdicou por um dia para não ter de assinar uma sentença de morte semelhante que violentava a sua consciência de católico. Só para que conste.
Onde está aquela Nação Fidelíssima que foi grandiosa porque espalhou a Boa Nova pelos quatro cantos do mundo e que hoje se vê reduzida a ter por “desígnio nacional” ganhar um campeonato europeu de futebol e assassina os seus próprios filhos? Paz à tua alma, Portugal.

Os falsos amigos dos imigrantes

A recente polémica do cartaz do partido nacionalista ao qual os duplamente fedorentos “Gatos” ripostaram com outro cartaz ainda mais estúpido veio reacender uma polémica recorrente nos países de acolhimento quanto à compreensão do fenómeno migratório e às formas de o gerir. Se é certo que, por um lado, os países ocidentais devido à quebra da taxa de natalidade e da desconexão entre os sistemas de ensino e as reais necessidades de mão-de-obra do mercado de trabalho, precisam cada vez mais de trabalhadores manuais, por outro, tal não significa que devam aceitar sem qualquer critério toda e qualquer pessoa que lhes “bata à porta”. Com que direito é que se decreta que a decisão de se instalar num país decorre unicamente de uma das partes envolvidas (o imigrante) sem que o país receptor tenha uma palavra a dizer sobre o assunto? Fazê-lo é levar um país a abdicar da sua soberania sobre o seu território, lançar os imigrantes em situações precariedade o que os torna presas fáceis de patrões sem escrúpulos, como já se verificou várias vezes, e levar à diluição da identidade nacional do país de acolhimento. Para completar o quadro, e na boa tradição totalitária da esquerda acusam-se de racistas, xenófobos e fascistas todos os que ousam questionar esta política. A ideia de que somos obrigados a aceitar todos os que se apresentarem à nossa porta parte do pressuposto de que ao fazê-lo nada mais estamos a fazer do que expiar os nossos “pecados” coloniais. Isto cheira-me um pouco a terceiro mundismo, logo a marxismo, que tem por objectivo isentar de responsabilidades os regimes cleptocratas instalados em muitos países africanos após a saída dos europeus e permitir-lhes viver á custa dos donativos ocidentais. Tudo isto com a cumplicidade de muitos governos ocidentais cujos membros, por vezes, fazem excelentes negócios de venda de armas para esses países. Ninguém duvida que a África é hoje, de um modo geral, muito mais pobre do que há 30 ou 40 anos. Basta pensarmos nas nossas ex-colónias. São vítimas, não do colonialismo, mas sim da descolonização e do pomposamente anunciado “direito dos povos à autodeterminação”, isto é, o direito dos governos a fazerem o que muito bem entendem com as suas próprias populações.
Uma frase que me desagradou particularmente no cartaz dos “Gatos” foi “O nacionalismo é parvoíce”. Desde quando amar o seu país, respeitar a memória dos seus antepassados e assegurar o seu futuro é “parvoíce”? Esta frase recorda-me um texto que acabo de ler, graças ao amigo Corcunda, retirado do site da revista norte-americana “The Intercollegiate Review” intitulado “Terrorism and the intellectuals” de Donald Kagan e onde se pode ler “Estes ataques tão em voga ao patriotismo são, afinal de contas, falhas de carácter. Eles são feitos por “meninos mimados” que usufruem de todos os benefícios oferecidos pelo país de que troçam e que detestam – as suas oportunidades, a sua liberdade e a as suas riquezas – mas a quem falta a decência para lhe prestarem o respeito e a honra devidas. A honra, de resto, é um dos objectos da sua troça”. Creio que estas palavras se aplicam perfeitamente a esses pobres coitados desses “Gatos” a quem uma estadia prolongada num PALOP, por exemplo, talvez fizesse bem.