14.4.07

O dito por não dito

Soube ontem que o social-democrata Cavaco Silva, que preside a esta república, durante uma visita à Estónia manifestou o seu desagrado perante a eventual realização dum referendo à “Constituição europeia”. Após se ter manifestado em tempos pela realização do mesmo até porque, como disse, essa era uma promessa eleitoral e que deveria ser respeitada para não descredibilizar ainda mais a classe política, vem agora dar o dito por não dito não vá o diabo (entenda-se o “povo soberano”) tecê-las. Estes democratas sempre me divertiram e no fundo são bem a imagem da fraude democrática. O tão referido “povo” só interessa quando vota como convém. Quando se trata de eleições normais em que os candidatos são previamente escolhidos pelos directórios da partidocracia nada há a temer, mas no caso de um referendo esse “enfant terrible” do povo é imprevisível, daí o interesse em banir o refendo. Ficaram escaldados com os exemplos francês e holandês. Lembro-me de quando por sugestão Lionel Jospin e António Guterres Bruxelas aplicou sanções à Áustria por esta ter no seu governo membros dum partido dito de extrema-direita. Confesso que me diverti quando Jospin foi banido das presidenciais francesas em 2002 por Le Pen.
Que terá esta sinistra construção europeia de tão apelativo para os políticos, e tão pouco para os eleitores ao ponto de os primeiros estarem dispostos a todas as manigâncias para a conseguirem? Trata-se a meu ver de processo clássico de centralização de poderes, anti-subsidiário e, por isso mesmo, jacobino. Roubar poder às bases e por as massas a delirar com grandes discussões metafísicas que não levam a nada porque, como já disse, os representantes a eleger são previamente escolhidos. Concomitante a este fenómeno é o exponencial aumento da despesa pública, como nós sabemos cá em Portugal, o que levará inevitavelmente à criação de um “monstro” europeu que devorará a própria Europa, tal como o Estado cá em Portugal está a devorar todo o tecido económico devido ao aumento constante da carga fiscal. Quanto à “construção europeia” confesso que estou optimista que a mesma acabará inevitavelmente por soçobrar porque, entre outras razões, a situação “pré-vulcânica” da França, que é um autêntico barril de pólvora, não confere a estabilidade política necessária à continuação do mesmo. Depois do que se passou neste país não creio que o próximo presidente francês ouse tentar fazer passar a “constituição” no parlamento e, em caso de novo referendo, o eleitorado recusá-la-á novamente. A juntar a isto o facto, mais do que provável, que a França venha a conhecer fortes surtos grevistas que a irão bloquear economicamente logo que o governo do próximo presidente comece a tentar fazer algumas das tão necessárias como proteladas reformas que o regime no fundo não permite fazer. Fiquemos, pois, descansados que a “socialist wonderland” (como lhe chamam no blog euro-céptico britânico “The road to euro-serfdom”) acabará por se estatelar.

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Certos dirigentes políticos europeus têm medo de referendar a Constituição porque sabem que os povos europeus querem acabar com as beneces de certos senhores que por aí andam.
Pela mesma razão não querem referendar a entrada da Turquia na União, porque sabem que o resultado era NÃO e não querem ceder às pressões Turcas que nos chegam através dos Estados Unidos da América.

22:08  

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