14.10.08

Análise certeira

Apesar de ter sido publicado n’ “O Diabo” da terça-feira da semana passada só anteontem consegui ler o excelente artigo do Prof. Soares Martinez, intitulado “As responsabilidades pela crise”. Um artigo que, para além da habitual clareza na exposição das ideias, me marcou pela profundidade de análise da tão falada crise financeira norte-americana, e que nos afecta a todos. Perante a gravidade da situação em grande medida fruto de irresponsabilidades e cupidez de agentes económicos, poucos são os que são capazes de ir ao âmago da questão, isto é, aos regimes demo-liberais actualmente vigentes na generalidade dos países europeus com a sua estrutural promiscuidade com homens de negócios e que como escreve, e muito bem o autor do artigo, “desde há sessenta anos que o poder político nos diz que os ciclos económicos e as suas crises eram coisas do passado, dominadas inteiramente pelos Estados demo-sociais, garantes de um progresso económico indefinido e de felicidades infinitas democraticamente distribuídas”. Perante a crise actual duas hipóteses se colocam: “Ou os regimes políticos vigentes, ao menos os ditos ocidentais, faliram estrondosamente, ou então sendo estes últimos válidos, a falha é dos estadistas, ou simulacro de estadistas, que os servem….as falhas generalizadas da gente que serve os regimes acabam por traduzir-se, fatalmente, em falhas insanáveis dos regimes, pois semelhante generalização só poderá significar a incapacidade definitiva dos próprios regimes para a selecção de governantes idóneos….falência dos regimes do demo-capitalismo desenfreado, com laivos socializantes, que tem feito as delícias dos comerciantes de golpe, atraídos para êxitos de curto prazo….Responsabilidades dos regimes que importará que sejam revistos profundamente. Responsabilidades dos estadistas, e simulacros de estadistas, que mal serviram os regimes. Responsabilidades dos tais homens de negócios golpistas que levando a melhor parte largas sobras deixaram aos tais estadistas, ou simulacros de estadistas, que, incapazes de cumprir a missão nobre de servir, apenas se serviram”. Creio que não é possível ser mais claro. O que temos nós tido no pós 25 de Abril senão simulacros de estadistas? Partilhando o ponto de vista do Prof. Soares Martinez, pergunto frequentemente a mim próprio, como, por que preço, por quem e com que legitimidade é que essa revisão profunda desses regimes, que acarretará inevitavelmente a sua queda, poderá ser feita? É esperar para ver.

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