Joe Berardo
Muito se tem falado ultimamente desta personagem que, qual Midas!, tudo transforma em ouro e todos deslumbra (nem todos) com o seu poder económico e a permanente ostentação que dele faz. A sua “aliança” com este governo, que os rasgados e patéticos elogios ao 1º ministro confirmam, é um perfeito exemplo da promiscuidade entre o poder político e a economia o que leva a que grandes empresas precisem de favores deste último para funcionar sem grandes riscos tornando assim os membros da nomenclatura do regime apetecíveis para as grandes empresas tendo em conta o “capital social” de que dispõem no meio político. Neste caso como é sabido estava em causa a aquisição pelo Estado da colecção do dito cujo. Não deixa de ser hilariante ver o deslumbramento alvar e boçal da equipe governativa que esteve presente em massa na inauguração da exposição do “argentário”, para utilizar a genial expressão de “Je Mantiendrai”, naquilo que foi uma espécie de cerimónia de “beija-mão”. Este comportamento é um reflexo deste mundo pós 1789 que privilegia o "ter" em detrimento do "ser". É-me impossível não deixar de pensar em Calouste Gulbenkian que dedicou toda a sua vida à aquisição de obras de arte e as considerava “suas filhas”, como se pode ler no hall de entrada do Museu Gulbenkian. Não creio que seja este o espírito que presidiu à aquisição da colecção Berardo, mas apenas o de investir em arte como quem investe em imobiliário ou na bolsa. Naturalmente não tenho nada contra a ascensão social pelo esforço individual porque é aí que reside o progresso material de uma nação, simplesmente este não deverá ser um fim em si mesmo mas tão somente um meio de alcançar uma maior perfeição moral na qual todos estão igualmente submetidos a um “dever ser”. Além disso o processo de burilar e aprimorar do espírito é algo que leva gerações mas que pode ser rapidamente destruído, por ex. com uma bala no foi o caso no fatídico 1 de Fevereiro de 1908. Como actualmente impor obrigações morais, o tal “dever ser”, é algo de impensável o enriquecimento passa a ser um fim em si mesmo, uma espécie de “nobilitação” laica, na qual pouco importa por que meios este foi obtido e que uso se faz dessa mesma riqueza. Basta pensarmos nas tristíssimas “elites” que povoam a “Caras” e “Olá semanário” e o estilo de vida que levam para se confirmar o que acabo de escrever.
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