27.1.08

Bom e mau terrorismo

Aguardando com o meu filho mais novo na sala de espera de um consultório que o chamassem, passei os olhos por um desses jornais de distribuição gratuita. A dada altura deparo com um artigo sobre o regicídio que naturalmente me chamou a atenção. Ao lê-lo redescubro naturalmente a versão historicamente correcta da queda da monarquia liberal, a lenga-lenga habitual do “escândalo” das adendas à Casa Real e o descontentamento com a mesma, sem nunca se referir naturalmente o que foi aquela inenarrável I República. O jornalista para escrever o artigo recorreu a citações do historiador "oficial do regime", Fernando Rosas, o que garante um "inquestionável" veracidade ao mesmo, uma espécie de “bênção laica”. Mas o que mais me enojou no dito artigo foram as afirmações do bloquista criticando o facto de se chamar acto terrorista ao regicídio visto que, segundo ele, este não se enquadraria no figurino do mesmo sendo sim o resultado do descontentamento popular. A sinistra organização terrorista Carbonária, a propósito da qual o paranóico António José de Almeida dizia que “sem ela a revolução não seria possível”, foi indubitavelmente a responsável por um tão abjecto acto e tinha uma estrutura celular em tudo semelhante a qualquer grupo terrorista da actualidade, como a Al-Quaeda, com uma cúpula dividida em três lojas sendo a mais importante a “Grande Loja”. Cada uma destas lojas subdividia-se em “barracas” dirigidas por um “bom primo” que era o único que contactava a “Grande Loja". As afirmações do bloquista reflectem a hemiplegia moral à qual já estamos habituados por parte destes “iluminados” do iluminismo, tão relativistas. Durante anos venderam-nos a teoria das boas e más ditaduras, do “sol das amplas liberdades” e outras pérolas. Que nojo profundo que sinto por esta fauna imunda de intelectualóides inúteis!

21.1.08

Luís XVI

Comemora-se hoje mais um aniversário da execução de Luís XVI. Esta data marca o corolário da dinâmica totalitária, de que o Terror é uma das expressões, de imposição da república (a I República, de curta duração 1792-95). Para arrancar a França da sua ligação à transcendência, cortar com a sua tradição católica, foi necessário imolar o “Ungido de Reims”, daí este crime hediondo. Quando penso nesta data tão triste, penso sempre no enorme testemunho de Fé Luís XVI, sobretudo numa situação de profunda adversidade, sujeito a humilhações várias e privado de ver a sua família, e que no entanto nunca manifestou o mínimo rancor ou desejo de vingança. Oiçamos apenas as palavras que dele disse Tocqueville no seu “L’ancien regime et la révolution”:
Pendant tout le cours de cette longue histoire, où l'on voit sucessivement paraître tant de princes remarcables, plusieurs par l'esprit, quelques-uns par le génie, presque tous par le courage, on en rencontre pas un seul qui fasse effort pour rapprocher les classes et les unir autrement qu'en les soumettant toutes à une égale dépandance. Je me trompe: un seul l'a voulu et s'y est même appliqué de tout son coeur: et celui-là, qui pourrait sonder les jugements de Dieu! ce fut Louis XVI."

A França de hoje, em via de total descristianização, continua órfã da Instituição sob cuja égide ela se fez. Até quando?

9.1.08

Traição a Portugal

Tal como era, infelizmente, previsível Sócrates, (qual Pinóquio!), veio pela enésima vez mandar às malvas uma promessa eleitoral com a total complacência dos media que, tudo fazem para o manter em estado de graça, e do seu mais incondicional aliado, que de resto foi um dos instigadores deste gesto, o social-democrata Prof. Cavaco Silva, vulgo P.R. Deu-se mais um passo na destruição de Portugal ao entregar-se a um directório jacobino instalado em Bruxelas aquilo (muito pouco) que resta da nossa soberania. Tudo isto a troco de “um prato de lentilhas” (expressão do Prof. Soares Martinez) que para nada mais servem senão para alimentar vícios e despesismos, encher o olho “ao Zé-povinho” e alimentar a gangrena da corrupção. Para a maioria da classe política, sempre com a boca tão cheia de “povo” que diz servir, este só interessa quando vota quando vota como convém, senão, descarta-se como se tratasse de um mero lenço de papel. Enfim, tudo bons rapazes!

Coragem

Li com imenso gosto o magnífico artigo do ABC cujo link o Corcunda colocou na sua “Pasquinada” a propósito da recente manifestação em Madrid, convocada pelo Episcopado espanhol, para protestar contra os delírios laicistas do “Zapaterito” (como lhe chamava o saudoso Jaime Campmany). Zapatero, como filho da Revolução Francesa, lançou-se na tarefa de promover a regressão civilizacional da Espanha, isto é, de a descristianizar ainda mais. Para tal e como bom totalitário lembrou-se de atacar a família sem o mínimo pudor e, ainda por cima, assume (ele e “sus machos”) uma postura de “virgem ofendida” perante as críticas que lhe são dirigidas. A manifestação de Madrid é um magnífico testemunho de coragem na defesa da nossa Civilização. Coragem nomeadamente por parte do Episcopado que desempenha plenamente o seu papel sem que tal signifique, contrariamente às críticas dos laicistas, que se esteja a imiscuir no “campo de César”. No compêndio de Doutrina Social da Igreja pode ler-se, na pág. 356 (Cap. XII, “Doutrina Social e Acção Eclesial”):
“Quando o magistério da Igreja se pronuncia sobre questões inerentes à vida social e política, não desatende às exigências de uma correcta interpretação da laicidade, porque «não pretende exercer um poder político nem eliminar a liberdade de opinião dos católicos em questões contingentes. Entende, invés – como é sua função própria – instruir e iluminar a consciência dos fiéis, sobretudo dos que se dedicam a uma participação na vida política, para que o seu operar esteja sempre ao serviço da promoção integral da pessoa e do bem comum. O ensinamento social da Igreja não é uma intromissão no governo de cada País. Não há dúvida, porém, que põe um dever moral de coerência aos fiéis leigos, no interior da sua consciência, que é única e unitária» (Congregação para a Doutrina da Fé)”.
Nenhuma sociedade sobrevive sem esta submissão a um “dever moral”, sob pena de acontecer aquilo a que todos nós assistimos diariamente: o difundir do relativismo que é uma forma sinistra de niilismo. Como português não posso de deixar de sentir um misto de inveja e revolta quando penso nesta manifestação, porque gostaria que o Episcopado português tivesse sido mais corajoso na defesa da vida quando se discutiu a questão do aborto e, mais recentemente, na questão dos nomes das escolas. Quantos bispos ou padres vimos nós há quase um ano na “Marcha pela vida” contra o infanticídio pré-natal? Se os nossos pastores não nos defenderem corajosamente como poderemos nós, simples leigos, fazer ouvir a nossa voz, sobretudo quando sabemos que os media de referência estão todos “afinados pelo mesmo diapasão”?

5.1.08

O dever da verdade

Terminei há alguns dias de ler um livro que resulta de uma entrevista do jornalista “de referência”, Ricardo Costa, ao conhecido especialista de assuntos fiscais, Medina Carreira. Não me situando naturalmente na mesma área política do entrevistado gosto sempre muito de o ouvir devido à sua frontalidade, lucidez e rigor. O livro põe o dedo na ferida da nossa situação actual não deixando margem para dúvida de que continuamos a caminhar inexoravelmente para o colapso, eu diria mesmo, para a implosão. Tudo é sinistro neste “paraíso abrilino”, o ensino, a justiça, o nível do desemprego, a monstruosa corrupção, o estado das finanças e, o que é mais grave, o “diluir” da alma lusitana. Estamos totalmente a saque enquanto que assistimos todos impavidamente ao desmantelar de Portugal sem que algo possamos fazer, para além de escrever em blogs, para contrariar este facto. Segundo o autor, que fundamenta as suas afirmações com base em dados que expõe no livro, Portugal, a sua alma gémea jacobina, a França, e a Itália são os países da Europa que mais se afundam, sendo o nosso caso o mais grave dos três. Este livro é uma bela “pedrada no charco” no optimismo “socratino” com o qual os media nos bombardeiam e de que o jornalista Ricardo Costa é um belíssimo arauto. Aliás uma coisa que me divertiu no livro foi precisamente o enorme contraste entre as duas posturas, entre as perguntas repletas de panegíricos ao governo feitas pelo Ricardo Costa, e as respostas do entrevistado que sistematicamente lhe refreavam o optimismo. Quando terminará o estertor do regime? Haverá alguém, ou algo, que nos possa acudir? Não creio infelizmente. Para seguir as "cenas dos próximos capitulos".