21.9.08

Comunismo II

Após alguns meses de interregno eis -me de volta às lides blogosféricas. Vou então retoma-las continuando a série de artigos que me tinha proposto escrever sobre o comunismo ainda a propósito do artigo de Hitchens sobre o estado da Rússia Apesar de nunca ter ido à Rússia, já tive a ocasião de contactar com russos de visita a Portugal e fiquei impressionado com a sua total vacuidade mental e ausência de uma hierarquia de valores. Para eles tudo gravita em torno do dinheiro, com o qual pensam tudo poder adquirir. Pode afirmar-se que pouco mais são do que seres vegetativos que têm uma existência puramente hedonista. O artigo refere a dada altura que o Ocidente, que felizmente nunca sofreu um regime totalitário comunista, caminha a passos largos para uma situação análoga à da Rússia. Como explicar tal fenómeno aparentemente paradoxal? Somos então forçados a admitir, por muito que tal desagrade aos entusiastas do “regime das cruzinhas” (como já alguém o definiu), que deve haver algum denominador comum entre as democracias liberais vigentes nos países Ocidentais e o comunismo. Não nos esqueçamos de que Lenine afirmava que o comunismo era a mais perfeita das democracias e de que os regimes comunistas da Europa de Leste se chamavam “democracias populares”. Abuso de linguagem? Talvez não. Ocorre-me uma citação de Léon Daudet (filho do célebre Alphonse Daudet autor das “Cartas do meu moinho”?) que li há algumas semanas no “Livre noir de la Revolution française” com o qual me tenho estado a deleitar nos últimos tempos:
A mon tour je veux montrer que, conformément au mot de Clemenceau, la Revolution est un bloc... un bloc de bêtise, de fumier et de sang. Sa forme virulente fut la Terreur. Sa forme attenuée est la démocracie actuelle avec le parlementarisme et le suffrage universel, et le choix, comme fête nationale, de l'immonde quatorze juillet, où commença, avec le mensonge de la Bastille, la promenades des têtes au bouts des piques et la periode terroriste completée par la grande peur. Date fatale au pays".
Podemos, pois, afirmar que o comunismo é, em grande medida, o termo patológico da democracia, na medida em que esta, ao instituir uma confrontação directa entre o Estado impossibilitando-lhes assim a possibilidade de se organizarem em corpos intermédios, cria assim uma certa empatia pelo comunismo. O fenómeno do “politicamente correcto” ao qual assistimos diariamente é uma expressão dessa mesma empatia. Repare-se que mesmo após a implosão do comunismo o anti-comunismo continua a ser um tabú. Furet na sua no seu “Passé d'une illusion” diz-nos precisamente que o comunismo pode ser estudado em duas situações possiveis, quer ocupe o poder por intemédio de regimes de partido único, ou então que seja seja um dos partidos (sempre minoritário) do espectro político-partiário das democracias ocidentais. O que há de aparentemente paradoxal é que o comunismo sobrevive melhor como ideal no segundo caso. Isto é, e para citar Furet, “o comunismo é forte onde é fraco (2º caso) e fraco onde é forte (1º caso). Se a isto juntarmos a descristianização das sociedades que a democracia acarreta ao destruir toda a estrutura orgãnica de uma sociedade contribuindo assim para “encerrar cada homem sobre si mesmo” compreenderemos mais facilmente o porquê da similitude do comportamento dos ocidentais e dos russos.

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