3.3.08

Sarkozy

Confesso que me tenho divertido com toda a polémica recentemente gerada pelas palavras que Sarkozy dirigiu na Feira da Agricultura a alguém que o criticava. Sem dúvida que a expressão que ele utilizou (“Tire toi pauvre con!, isto é, “pira-te pateta!”), é pouco compatível com o estatuto de chefe de estado, mas num país que desde há 200 destrói elites e a possibilidade de as criar, este facto nada tem de surpreendente, bem antes pelo contrário, ele é o resultado lógico de todo esse “labor”. Esse mesmo “labor” que, como é sabido, iniciou-se com meios violentos como foi a guilhotina tendo progressivamente assumido formas mais subtis, menos violentas, mas não menos eficazes como é o caso de (e sem querer ser exaustivo) da divisão da propriedade fundiária, ataques à Igreja, o ensino e os media massificado, ódio às elites, entre outras medidas. Os franceses (e não só) descobrem hoje que cada vez menos há verdadeiros estadistas. Num mundo todo ele estruturado com base no “seja feita a nossa vontade”, isto é, sem um absoluto, como é que se consegue formar homens íntegros e rectos?
Outra questão que tem agitado os franceses, devido à febril actividade de Sarkozy (a quem eles chamam “Speedy Sarkozy”) é a do papel do PR. Qual a diferença entre o papel do P.R. e o do P.M? Isto porque em grande medida pode dizer-se que a França tem dois P.Ms. O que nos remete para uma estão sempre latente lá em França: a da crise das instituições da V República. Crise essa aliás à qual Sarkozy “pretendeu” dar resposta criando uma comissão presidida pelo “compagnon de route” (e de saques) de Miterrand, Jacques Lang (“la chèvre” como é conhecido), para elaborar um relatório com propostas de revisão constitucional. Uma vez conhecido esse relatório, de resto muito vago como era de prever, Sarkozy ignorou-o totalmente. Naturalmente nunca acreditei em Sarkozy, ele não deixa de ser um produto do regime que não questiona, mas cada vez mais se apresenta aos olhos dos franceses como um imenso “bluff”, facto esse do qual cada vez mais franceses se apercebem, o que lhes causa uma imensa frustração visto que, no contexto actual, não há qualquer outra alternativa e, ainda por cima eles são totalmente incapazes de conceber uma só que seja. Pobre França que tem tanto que sofrer!

2 Comentários:

Blogger Nuno Castelo-Branco disse...

E o mais engraçado, consiste no facto de os franceses estarem completamente absorvidos pelas aventuras "poufiassiques" do sr. presidente. Dá um gozo enorme.

20:28  
Blogger António Bastos disse...

É verdade. É o cúmulo da incoerência. Têm o que merecem.

00:46  

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