25.2.07

Os “Vitais” Moreira


O amigo Corcunda num dos seus posts recentes falava do futuro da Igreja em Portugal a propósito dos comentários do totalitário Vital Moreira (órfão de Lenine, Goebbels da III República e émulo de Afonso Costa) à derrota do “Não” no recente referendo à liberalização do infanticídio pré-natal. Tal post levou-me a reler uma entrevista antiga (1979) de Jean-François Revel a Bernard-Henri Lévy a propósito de um livro que este último acabava de publicar intitulado “O testamento de Deus”. O livro é de uma enorme actualidade perante estes ataques à Igreja, que é e será sempre O garante da nossa liberdade. A atitude de Vital Moreira como a de muitos outros como ele é a de não reconhecer que os erros desse laicismo, que é uma forma de paganismo como o marxismo, estão na génese do fenómeno totalitário, que é sempre precedido por uma tentativa de erradicar a tradição judaico-cristã e monoteísta. Há, a esse propósito, na entrevista uma frase que gostaria de citar e que é bem reveladora das consequências do laicismo: “Nós nunca fomos tão pouco livres como desde que deixamos de acreditar. É a descoberta que com Dostoiesvski fez toda a literatura moderna. Se já não há pecado é a alma que é o crime. Se já não há Redenção é a vida que é a expiação.” Confesso que quando leio isto me falta um pouco o ar e que tenho vontade de me prostrar diante do Santíssimo e adora-lO. O que fazem todos os “Vitais Moreira” (de Robespierre a Mao passando por Hitler e Staline) é desviar em seguida a Fé em Deus para os “bezerros de ouro” do paganismo que por aí abundam: o Estado, a Maioria, o Partido, a Natureza ou o Romantismo. Num fundo são um bando de fariseus que choram lágrimas de crocodilo perante as vítimas da República Nacional-Socialista Alemã (as dos gulags não eram humanas! Como tal não se incluem no tão politicamente correcto “dever de memória”) mas não lhes ocorre tentar compreender quais as filosofias que levaram aquele macabro resultado. Um pouco como se alguém lamentasse a morte de alguém por cirrose e continuasse a defender o consumo imoderado de álcool. O objectivo dos “Vitais Moreira” é transformar o Estado, neste caso a República, numa “Igreja” laica e ser ele a dizer o que é o Bem e o Mal, ou seja confundir as duas Cidades de que falava Santo Agostinho. Neste contexto a Igreja vai cada vez mais ficando condenada a ser uma simples caixa de ressonância do poder político e é a isto que cada vez mais, infelizmente, vamos assistindo. Cada vez que isto acontece, que há uma sobreposição das duas esferas ou Cidades, estamos perante o totalitarismo. Paz à tua alma, Portugal!

21.2.07

Portugal: paraíso da criminalidade?

Ouvi há pouco na rádio que o militante do partido social-democrata que actualmente desempenha o cargo de presidente desta república a que nos condenaram indultou um foragido da justiça que tem sobre ele pendentes mandatos de captura não só nacionais como internacionais. Independentemente da forma algo atabalhoada e pouco clara como todo o processo se desenrolou e já para não referir a total ausência de explicações por parte do inquilino de Belém, ocorrem-me várias questões. Num país em que a justiça está totalmente desacreditada perante os cidadãos é a desgraça que sabemos, não tanto por culpa dos seus profissionais mas em grande medida pelo excesso de produção legislativa labiríntica e contraditória, pergunto-me: qual o sentido destes indultos? Quais os critérios que os norteiam? Não serão estes mais um exemplo de não separação de poderes? Estou a pensar no sketch dos politicamente correctos “Gatos Fedorentos” no qual o antigo ditador Saddam Hussein pedia para ser julgado cá em Portugal visto que se assim fosse os seus crimes não seriam julgados tendo em conta a data em que foram cometidos. Fica-se um pouco com a sensação de que como se já não bastassem todos estes problemas da justiça ainda vêm os presidentes “ajudar à festa” com estes indultos. Estes têm sido vários e alguns deles muitíssimo discutíveis: o de Mário Soares a Otelo S. de Carvalho, os de Jorge Sampaio a um criminoso com vários crimes de sangue no seu cadastro e a uma enfermeira que roubava o hospital em que trabalhava e do qual tinha sido despedida com justa causa e agora este de Cavaco. Isto já para não falar das condecorações, “badalos da república” como gosto de lhes chamar, a personagens igualmente muito duvidosas. Analisando no seu conjunto estes tristes actos dos presidentes fica-se com uma noção da formação moral destes homens cuja completa subversão de valores é bem a imagem do regime que tão bem representam. Num regime que é fruto do crime e do terrorismo da Carbonária e que assenta no cadáver do Rei D. Carlos e no do Príncipe D. Luíz Filipe é natural que as suas tristes “elites” reconheçam legitimidade e enalteçam, se bem que não o declarando publicamente, actos desta natureza. É por isso que, por ex., Sampaio condecorou a terrorista Isabel do Carmo (“Isabel dos petardos”) com um desses “badalos”. Pobre Portugal!

19.2.07

Pauperização da França

Assisti há pouco tempo a uma reportagem no canal francófono TV5 sobre a cada vez maior penúria dos estudantes universitários em França que se vêm na obrigação de aceitar pequenos trabalhos para fazer face aos gastos e que recorrem aos serviços sociais para receberem cabazes de alimentos que, para muitos, constituem a única forma de poderem consumir carne havendo mesmo a assinalar casos de subnutrição. Tudo isto porque a maioria dos pais vive com orçamentos tão limitados que não comporta qualquer acréscimo de despesa, situação esta que, segundo é dito no programa, se tem agravado muito nos últimos anos. Creio que para muitos portugueses que têm da França a imagem um país rico, com um bom nível de vida, tal situação possa parecer algo estranha no entanto a realidade é que a França está cada vez mais pobre e endividada e caminha para a bancarrota. Basta pensarmos que todo aquele generoso estado social é mantido com recurso ao aumento da dívida pública, que quintuplicou em 20 anos absorvendo hoje 65% do PIB, e que, segundo li recentemente, o montante total colectado do imposto sobre os rendimentos (individuais e colectivos) paga apenas os juros da mesma. Vem isto a propósito da pré-campanha eleitoral para as presidenciais que decorre neste país e que contribui para o colocar no centro das atenções. Creio que resumir o problema da França a uma mera escolha de candidatos é algo redutor porque o problema desta é muito mais profundo. A França é acima de tudo vítima da ideologia, isto é, da incapacidade de percepcionar o real. Ninguém ilustra melhor esta situação do que o patético Presidente Chirac, a quem ouvi uma vez chamar “o optimista inoxidável”, quando fala do seu país e demonstra uma total desconexão com a realidade. Um povo a quem é inculcada a ideia de que tem as melhores instituições do mundo e que, por isso, se considera um modelo a seguir não consegue compreender o que se passa. Os próprios franceses contam uma piada que ilustra bem esta situação quando explicam porque razão o galo é o seu símbolo nacional: porque é o único animal que consegue cantar quando tem os pés na m…A França, à semelhança da ex União Soviética precisaria de uma “glasnost” (transparência) para conhecer o seu verdadeiro estado o que é difícil pela razão acima referida. Tudo isto associado a um regime profundamente centralizador, disfuncional, que pratica “despotismo democrático” a um nível que, mesmo para padrões europeus, é elevado, a um subconsciente marxista que os leva a detestar quem tem dinheiro porque de alguma forma consideram que a pessoa “serviu demasiado do bolo” (como se houvesse uma quantidade fixa de riqueza!) e o que é uma persistência daquilo a que gosto de chamar a mentalidade “sans-culotte” e, por fim e como consequência, a um nível fiscal depredatório que desincentiva toda e qualquer tentativa de investimento. É por isto que a França está a sofrer uma hemorragia de mão-de-obra qualificada e empreendedora que tanto contribui para o seu empobrecimento. A associação de todos estes elementos forma uma mistura explosiva cujos resultados são hoje visíveis. A França vive hoje, situação que tende a agravar-se, um “braço de ferro” entre a ideologia e a realidade e que, como sempre, esta última irá ganhar porque como dizia Revel “os factos são sempre reaccionários”. Tal acontecimento acarretará inevitavelmente a queda da V República, numa situação que nos recorda a da parábola do “Filho pródigo” na qual o filho só regressa à casa do Pai quando delapidou toda a sua herança e se encontra na miséria o que o leva a aperceber-se da sua real situação. Creio que este facto será uma bênção para a Europa porque, da mesma forma que os problemas que a afligem têm a sua origem nas ideias difundidas pela Revolução Francesa, creio que será também de lá que poderá vir a sua salvação. Será que estou a ver “o filme depressa demais”? Talvez, mas uma coisa é certa a gravidade da situação financeira francesa é tal que não dá margem para delírios e demagogias dos governamentais.

16.2.07

Novo blog

Já estão em linha as edições da Gazeta da Restauração.

14.2.07

Sakharov


Como é sabido o Papa Bento XVI homenageou recentemente um dos homens mais notáveis do séc. XX: Andrei Sakharov. Sakharov destacou-se, para além do seu saber científico, pela sua integridade, probidade e, consequentemente, amor à verdade. Algo que lhe trouxe vários dissabores. Não nos esqueçamos de que Andrei Sakharov na qualidade de físico nuclear fazia parte da nomenclatura do regime, com todos os privilégios que lhe estavam associados, como era o caso de uma datcha no Mar Negro. Sakharov ao dizer não à mentira, isto é e neste caso, ao denunciar o regime comunista sabia que lhe seriam retirados todos esses privilégios facto esse que nunca o fez mudar de postura. Sakharov chegou mesmo a ser exilado em Gorki, onde ainda estava quando foi criado em sua honra o prémio “Liberdade de pensamento” pelo Parlamento Europeu. Do belíssimo discurso de Bento XVI gostaria de destacar a seguinte frase que me parece de uma enorme actualidade sobretudo após a desgraça do passado domingo no nosso País.

«É necessário, na vida pessoal como na vida pública, ter a coragem de dizer a verdade e segui-la, (e) ser livre em relação ao mundo ambiente que tem a tendência de impor as suas maneiras de ver e os comportamentos a adoptar»

Pergunto: perante este cada vez mais cercear do pensamento, como a triste campanha pelo aborto, e não só, o provou, quem ousa hoje “ter a coragem de dizer a verdade e segui-la” mesmo sabendo que se arrisca a ter dissabores com a “polícia política” do politicamente correcto, os media, ou com muitos dos que nos rodeiam (colegas de trabalho, familiares e mesmo amigos)? É esta coragem que distingue os Grandes homens dos pigmeus. Estou a pensar num caso que vi na televisão no qual um padre íntegro, no Norte do País, na sua homilia teve a coragem de referir o 5º Mandamento da Lei de Deus o que levou imediatamente uma equipe de reportagem da televisão a ir entrevistar esse “marciano” que defende a vida humana, e tendo o movimento pelo “Sim” apresentado queixa dele na Comissão Nacional de Eleições. Quando o que vemos hoje cada vez mais são Pilatos que não hesitam em lavar as mãos para evitar este tipo de problemas, o exemplo de Sakharov é ENORME, e é por isso que Bento XVI tão oportunamente o enalteceu. Vamos tendo infelizmente, tal como ele o fez, que nos habituar a defender a nossa liberdade interior visto que a exterior é cada vez mais reduzida devido ao verdadeiro terrorismo intelectual a que estamos sujeitos.

10.2.07

Países “civilizados”

Numa altura em que nos preparamos para referendar um direito natural, o direito à vida, por “sábia” decisão do senhor presidente desta república a que nos condenaram, e que ainda por cima se diz católico, seria interessante conhecer as consequências que o acto de matar por razões “humanitárias” teve nos países em que tal foi legalizado. Vem isto a propósito de um artigo que recebi ontem da Alliance Royale e no qual se propõe fazer o tristíssimo e macabro balanço da célebre “Loi Veil” de 1974, aprovada pelas mesmas razões. Porque será que nos citam como exemplo de progresso países que cometem suicídio demográfico? Países em que, entre outras razões, o hedonismo leva a que cada vez mais ter filhos seja visto como um fardo e um obstáculo à fruição da vida, daí a descontracção com a qual se diz ao médico, em caso de uma gravidez imprevista: “Elimine-o porque agora não me dá jeito tê-lo!”. À custa de banharmos em todo este “caldo niilista” vamos progressivamente perdendo as nossas referências e tudo se vai tornando normal (“tão natural como a sua sede” como diria o anúncio!), seguindo-se a eutanásia, ou o aborto livre até às 20 ou 30 semanas. É tudo uma questão de tempo! Aqui deixo o link desse artigo para os nossos estimados leitores o poderem consultar: http://www.allianceroyale.fr/article.php3?id_article=374

9.2.07

Um Não que vale por mil Sim's

Abortar mata.
É desta certeza que desenvolvo toda a minha aversão à lógica referendária em que nos inscreveram. É uma repulsa visceral que, neste último dia de apelo ao voto, sinto necessidade extrema de publicar. Nem ficaria bem comigo se, depois do que escrevi, pudessem restar quaisquer dúvidas sobre a minha posição. E confesso-vos que ainda ando a remoer se uma ou outra intervenção minha tiveram o efeito que lhes confiei.

Dizem que votar Sim é jovem. Primeira falácia comprovada em mim mesmo e em tantos outros que, convencidos das verdades que enformam uma moral superior, têm dado a juventude à causa da defesa do que mais vale entre nós: a Vida. Somos muitos, milhares de pessoas em ainda pueril idade, que olham o futuro de um país e de uma civilização com a esperança que se nos exige. A esperança de que todos os condicionalismos que levam hoje à morte prematura de um Ser Humano sejam um dia ultrapassados e lembrados como passado. Dizemos nós, jovens audazes que acreditamos no que há-de vir, que queremos lutar para que nenhuma mulher tenha de optar abortar. Esse sim é o nosso objectivo. Esse sim é o nosso Sim!

Que país é este, que sociedade construímos, que não tem amor para dar, que não sabe acolher a mais bela manifestação da Vida, o mais precioso dom? Que país é este que oferece o mal de bandeja, enfeitado de técnicas avançadas na modernidade da ciência de matar? Que país é este que se torna hipócrita ao ponto de enganar as mulheres, fazendo-as de vitimas, encaminhando-as para salas de aborto assistido como se a solução dos seus males passasse por voltar à estaca zero? Que país é este que fomenta essa estaca zero, como se nada se tivesse passado, reenviando as grávidas à sua vida de outrora, com os mesmo dramas que ficaram por resolver? Que país é este que põe isto a referendo?

Nunca um Não foi tão positivo. Positivo por acreditar e querer responsabilizar quem de direito perante as causas que levam ao aborto e que estão por resolver. Positivo por não medir o valor da Vida pela adjectivação criminosa que muitos têm proferido. Positivo porque nega a resignação de uma sociedade desnorteada, sem nada mais que a enquadre a não ser a utilidade do momento.

Votar Não é um Sim à Vida, ao futuro, à civilização e, sobretudo, a nós.

8.2.07

O feto e a verruga

Chegou-me este e-mail, que passo a transcrever sem demoras:

"Este texto foi lido ontem na Rádio Baía (Seixal) por um militante comunista e já lhe valeu insultos e ameaças...

O feto e a verruga

Em primeiro lugar, quero felicitar-me e felicitar todos os que me ouvem (ou lêem) neste preciso momento. Porquê? Porque estamos vivos. E se estamos vivos, é porque nascemos. E, se nascemos, é porque as nossas mães, quando estavam grávidas de nós, não quiseram interromper a vida que já éramos dentro delas. Agradeçamos, por isso, às nossas mães, ou à sua memória, o facto de nos terem dado à luz. E agradeçamos ainda mais àquelas que (como a minha, por exemplo) poucas ou nenhumas condições tinham para nos trazer ao mundo, mas que optaram pela vida, em vez de terem optado, egoística e cobardemente, por nos levarem a uma assassina qualquer de vão de escada, para ali sermos trucidados, e assim se livrarem de nós.

Essas mulheres, aquelas que nos pariram, foram mulheres de esquerda, porque de esquerda são a Vida, a Luta, a Esperança e a Coragem. De esquerda não são, seguramente, o comodismo, o facilitismo, o egoísmo, a irresponsabilidade, a cobardia e a insensibilidade perante o gesto obsceno de destroçar uma vida indefesa. É bom, por isso, que ninguém se esqueça que todos nós fomos, um dia, um feto de dez semanas, onde aquilo que hoje somos já estava, nessa altura, perfeitamente constituído e completamente definido. Um ser com identidade própria.

Por isso, quando no dia 11 for deitar o meu voto, como louvor à minha mãe e a todas as mães sofridas e corajosas de todo o mundo, votarei NÃO em plena consciência e, também, com a convicção de que estou a defender valores de uma moral superior (que é a superioridade moral dos homens verdadeiramente de esquerda), obedecendo às únicas leis que respeito e a que me subordino: as leis da natureza.

Porém, e para que não fiquem dúvidas a ninguém – e a ninguém se dê oportunidade de tirar conclusões tipo cassete ou «chapa cinco», à moda daquele idiota que governa os Estados Unidos, e que costuma dizer que quem não estiver com a América, está contra ela – quero deixar bem claro não penso desta forma por razões de natureza religiosa, dado que não professo qualquer religião, nem por alinhamentos ideológicas ou partidários, mas por profundas convicções pessoais, porque a minha consciência e a minha visão da vida e do mundo a isso me conduzem. Bem andaria a nossa democracia se todos fizessem o mesmo.

Já aqui o disse uma vez, mas é preciso repeti-lo hoje. Pelo Sim, estão pessoas de todos os quadrantes políticos, muitas delas tidas pela esquerda como gente da direita pura e dura, como Rui Rio, José Sócrates e quase todo o bando de pardais cor-de-rosa que tem destroçado o país e atirado milhões de portugueses para as ruas da amargura. Pelo Sim estão, também – e aos montões – anticomunistas de primeira água, mas parece que, nesta vertigem referendária, tal convivência é tida como saudável, natural e nada incomodativa. E, quanto a mim, muito bem, não fosse dar-se o caso de não se ter igual critério quando alguém de esquerda defende o voto Não. Aí, caem logo o Carmo e a Trindade, e o facto de se votar igual a certas figuras de direita é tido, estúpida e sectariamente, como uma conversão ideológica.

Haja um pouco de decoro – caso não seja, apenas, falta de inteligência – e aceite-se que não estamos a falar, neste referendo, de modelos de sociedade nem de questões ideológicas fundamentais. De facto – e por muito que isto se esconda – a questão do aborto não é, nem de perto, nem de longe, a grande questão nacional. Se há problemas graves neste país – e infinitamente mais graves e trágicos – são eles os que afectam os mais de dois milhões de portugueses que vivem na miséria, número este que todos os dias sobe. É o desemprego, essa chaga social que leva o desespero e a fome a centenas de milhares de famílias. É uma política infame que veda ou dificulta o acesso à Saúde, cada vez mais distante e mais cara, retirando a milhões de portugueses o direito a uma vida saudável ou, em muitos casos, à simples sobrevivência.

Ou já nos esquecemos das taxas moderadoras, cada vez mais – e mais caras – ou das comparticipações a baixarem, ou das as vacinas que podiam salvar do cancro mais de um milhar de mulheres em cada ano, mas que só estão ao alcance das mais ricas? Não é isto mais infame e grave do que o aborto clandestino, pois uma mulher contrai cancro sem querer e sem qualquer tipo de culpa, o que não é o caso de um aborto? Não é isso bem mais dramático e atentatório da dignidade da mulher e dos seus direitos?

Não é igualmente infame uma política que obriga uma grávida a ter de ir parir a Badajoz, ou um cego a ter de ir recuperar a visão à Ucrânia? Não é uma indignidade, acima de qualquer outra, centenas de milhares de pensionistas sobreviverem com reformas miseráveis, deixando, em muitos casos, de aviar os medicamentos de que necessitam, ou vendo-se obrigados a aviá-los a bochechos? Não morrem, verdadeiramente assassinados, muitos portugueses vítimas desta política?

Já nos esquecemos, também, dos salários em atraso, outra fonte de miséria e de dramas terríveis?

Mas será tudo isto menos grave, menos infame, menos indigno e menos problemático do que a questão do aborto clandestino? Dir-me-ão que não. Mas se não, então porque não vejo as forças que agora se agruparam em torno do Sim, igualmente activas – e igualmente aguerridas e igualmente vigorosas – no combate às chagas que acabei de enunciar? Não serão, afinal, muitas dessas chagas que conduzem ao aborto? E se não posso pedir isso a todas essas forças, porque muitas delas são as responsáveis pelas misérias que referi, algumas há a quem devo perguntar porque não se põe em todas as lutas a mesma intensidade que se está a pôr na luta pela liberalização do aborto?

Por outro lado, considero extremamente desonesta muita da argumentação utilizada, como desonesta é a própria pergunta do referendo. Sob a capa de despenalizar a mulher que aborta até às dez semanas, abre-se a porta, no caso de o Sim ganhar, ao aborto sem qualquer condicionante. A pedido. Isto, por muito que custe aos defensores do Sim ouvir dizê-lo, é a liberalização pura e simples do aborto. Ou seja, o aborto ao nível do preservativo, da pílula ou do aparelho intra-uterino. E, está claro, pago pelo Estado. Para a campanha do Sim, a questão do aborto começa e acaba na mulher. Não há o outro autor da concepção – o homem – não há feto nem vida humana dentro do útero.

Por isso, os defensores do Sim nem querem ouvir falar do feto. É o seu calcanhar de Aquiles. Que chatice haver feto, não é? Que aborrecimento, haver quem mostre «aquilo» desmembrado, a pasta de sangue onde ainda se vislumbra o crânio, enfim o pequeno ser humano em miniatura completamente destroçado, o ser a quem, por bondade da lei, passou a ser normal – normalíssimo – interromper a vida.

É verdade. Vão aos arames, sentem-se incomodados, desconversam, descontrolam-se quando se lhes toca no pequeno ser. Que bom seria se, em vez de um feto, fosse uma verruga. Porém, não é uma verruga. É vida. Negam, dizem que não é vida, ou – por especial condescendência – que não se pode dizer se é vida, ou não. Mas se o feto com menos de dez semanas não é vida humana, o que será então?

Ná. Não vão por aí. Modernaços, não lhes chega a modernidade ao ponto de falarem de ecografias de fetos com sete, oito, dez semanas, apesar de as ecografias, que hoje se vulgarizaram, entre outros meios de observação do que se passa no ventre materno, mostrarem como a tal «verruga» – que eles gostariam que fosse – não é mera parte do corpo da mãe, nem um defeito, mas é já um ser com vida própria, onde bate um coração, e com movimentos autónomos da vontade da progenitora.

Fica claro, assim, que há duas ordens de razão para o meu voto NÃO:

A primeira, porque, em consciência, me repugna transformar o acto abortivo numa prática comum, como se eliminar uma vida fosse algo tão simples e normal como retirar um quisto ou desencravar uma unha. Ou ainda mais simples e banal do que isso.

A segunda, porque a campanha do Sim não me pareceu séria nem frontal. Fugiu como o diabo da cruz de aspectos que não podem ser ignorados – ou que só podem ser ignorados por quem se sente incomodado com a verdade.
E se alguns defensores do Não foram – e são – hipócritas, a campanha do Sim não se ficou atrás.
Afinal, meus amigos – e doa a quem doer – um feto não é uma verruga."

O veneno de Rousseau

O Corcunda no seu post sobre a punição da mulher mostrava-nos como pelo facto de se transformar as mulheres na Mulher (uma autêntica “asubstanciação”) se lhe retira uma vivência, um passado, um presente e, por isso, um futuro. Numa só palavra desumanizamo-la. Paradoxalmente, ou talvez não, acaba-se por lhe fazer o mesmo que ao ser humano que esta tem no seu seio, no caso de estar grávida naturalmente, para o poder exterminar sem problemas de consciência mas com a diferença de que, neste caso, o objectivo é desculpabiliza-la indefinidamente e transferir a culpa para a “terrível” sociedade, aqui representada por, a Igreja, o marido, o patrão que a explora etc... No fundo está-se a transformar a Mulher no “Bom Selvagem” do sinistro Rousseau, grande inspirador da hecatombe de 1789, para através dela se promover o ataque às instituições e através delas à tão necessária autoridade do Estado. São por demais conhecidos os efeitos nefastos que as ideias desse senhor têm acarretado para o Ocidente. Esta teoria do “Bom selvagem” leva por sua vez ao relativismo moral porque ao estruturar as sociedades em função do indivíduo, em vez do grupo (a família, os vários corpos intermédios) é a noção de moral de cada um que passa a ser válida, isto é, passamos a ter uma pluralidade de noções, logo nenhuma. Isto por sua vez leva ao questionar da autoridade e ao desconfiar dela vendo-a como algo de maléfico. Daí a necessidade de a enfraquecer dividindo-a. Pensemos, por exemplo, na forma como está montado o nosso sistema político, em que não há uma efectiva separação de poderes e em que os existentes se entrechocam donde resulta uma autoridade nula, para compreendermos a influência dessas ideias. Quando nos libertaremos deste tumor que são as trágicas ideias deste senhor? Só quando se tornar consensualmente aceite que autoridade não é sinónimo de autoritarismo e que esta é essencial para que se possamos coexistir em sociedade e para que todos tenham o seu “espaço vital” sem se atropelarem mutuamente. Receio bem que o preço a pagar para chegarmos a este consenso será a eminência, que não estará muito longe, do total colapso pela anarquia das nossas sociedades ocidentais sobretudo as europeias .

7.2.07

Sessão de esclarecimento - Setúbal

Da liberdade religiosa e de reunião

O vento nihilista (III)

O vento já não sopra de oeste. Acabaram-se as mitologias fecundadoras das éguas lusitanas e impulsionadoras de um puro sangue veloz. Agora vem do oriente, daquela Europa que construímos com sangue.
Invertemos tudo, importamos tudo. Esquecemos a filosofia para comprá-la a pacote. Chamaram-se afrancesados, embora goste mais de intitula-los de vendidos. Talvez seja por isso que ignoramos hoje quem somos. Perdemo-nos na amnésia geral.
Sopra o vento de Zaratustra mais forte que o de Zéfiro. Mesmo na mais duradoura tradição helenista se sente "o fumo de Satanás". A transmutação de todos os valores, a que leva à ausência de todos eles, internacionalizou-se pela destruição da intuição particular que os povos fariam, e faziam, da Verdade. No caso português, fez-nos descorar a matriz da civilização e da visão próprias que assentámos nas bases solidas da ontologia cristã.
Talvez um dia, quem sabe contrariando a convicção pessimista de alguns, quebremos o jugo da antropologia nihilista, e o antiteísmo passe à história como a origem de todas as tragédias.

Até lá escrevemos o tempo como um estado transitório, de esperança e saudade de futuro. Mas até lá, não corre rápida a pena de quem escreve sem que o vento se faça sentir na cara, amedronte os olhos e tente fecha-los. E só há um caminho para mante-los alerta: nunca ceder à tentação de semicerrar o olhar.

6.2.07

O vento nihilista (II)

Sujamos a cara porque flexibilizamos os argumentos. Ora, a Verdade é inflexível. E é precisamente por contrariarmos a sua lógica que não vencemos o vento de Zaratustra. Levamos com tudo na cara.
Enquanto não nos apercebermos que a força do vento nihilista reside em devolver qualquer fragmento que se solte da solida Verdade, continuaremos a adapta-La como necessidade de moldagem ao mundo moderno. No fundo, resulta também isso daquela esteriotipização invejosa que o egoísmo faz: rotula a radicalidade com a injustiça contra a autodeterminação da vontade, fazendo-nos ceder à chantagem da acusação, pela falácia.

Abortar mata, porque há vida humana desde a concepção, e o seu valor não se mede por nenhum condicionalismo que não se lhe equipare em inviolabilidade. Contra isto não há vento que nos suje. Pena existir tanta "gentalha" com medo que Nietzsche lhe carimbe a testa.

5.2.07

O vento nihilista (I)

Este texto fez-me recordar uma leitura de Friedrich Nietzsche:
"A vida é uma fonte de alegria; mas nos lugares onde a gentalha vai beber todos os poços estão envenenados. (...) E, para mim, o mais duro não foi ter de aceitar que a própria vida tem necessidade de inimizade, de morte e da cruz dos mártires: Mas perguntei um dia e essa pergunta quase me asfixiou: o quê? A vida necessitaria de gentalha? (...) É o meu nojo, e não o meu ódio, que me devora a grandes dentadas a vida! Ah!, quantas vezes o espírito se me enojou ao ver a própria gentalha cheia de espírito!"
(Assim Falou Zaratustra)
Escarramos frequentemente contra o vento de Zaratustra. Nos dias que correm, sopra forte nas cabeças arejadas de muitos. As nossas armas permitem-nos sempre a vitória, mas a cedência à lógica da direcção do vento nihilista mais não tem que o resultado inverso ao que esperamos: é escarrar contra o vento do Super-Homem.
A loucura dos últimos dias de campanha para o referendo à vida, vai ser a do vento aproveitar cada descuido para nos sujar a cara. O seu argumento é sempre esse: estereotipar pelo "nojo" tudo o que pela inveja não aceita não compreender.

4.2.07

Verdade Inconveniente

Parece que este cartaz não se tem aguentado na rua. Fazem questão de rasga-los diariamente. Há verdades inconvenientes!

3.2.07

Setúbal: É HOJE!

2.2.07

De onde vimos, para onde vamos

De ontem, além da imagem desoladora dos poucos que estiveram presentes na homenagem do Terreiro e na Missa em S. Vicente, fica uma importante certeza retirada de uma acção monárquica a repetir: há que definir o que queremos.
É certo que a juventude impele a um activismo mais radical no que respeita à forma. Imaginamo-nos nas ruas de Lisboa a colar cartazes, quem sabe a pintar um stencil, a distribuir panfletos nas saídas do metropolitano e a gritar palavras de ordem, como estas. Mas se pensarmos em todas as consequências destas manifestações, voltamos à causa que as impulsiona, correndo o risco de não conseguirmos encontrar definições ou propostas minimamente compreensíveis e aceitáveis.
No fundo, concluímos sempre que não há forma sem algo que a enforme. E coisas ocas bastam-nos as da república.
Perguntemos pois: Há conteúdo? Qual? De onde? De quem?
E a blogosfera?
Talvez seja isso... a blogosfera! Escrever, escrever e escrever, é a palavra de ordem, a acção que urge. Escrever para informar e esclarecer. Falta-nos, antes da irreverencia militante, a coragem de ler, estudar, reflectir e escrever.

De César e de Deus

No Diário Digital:

"A antiga directora da Comissão Nacional de Eleições (CNE) Fátima Abrantes disse à Rádio Clube que a ameaça de excomunhão lançada por padres corresponde a um crime de coação punível com dois anos de prisão."

Ou seja, ficamos a saber que a advertência aos fiéis para a correcta aplicação do Código de Direito Canónico constitui-se como crime de coação punível. Que tal fazermos um referendo pela despenalização desta situação?

1.2.07

Acto fundador da república

Comemoram-se hoje 99 anos do acto mais ignóbil da história portuguesa do século XX, o acto fundador da república jacobina de que hoje colhemos o “doce fruto”: o assassínio do Rei D. Carlos I e do Príncipe real D. Luíz Filipe. Foram vítimas de um dos sentimentos mais abjectos que pode habitar a alma humana: a inveja (o gosto depravado pela igualdade como lhe chamava Tocqueville). D. Carlos, um homem a vários títulos brilhante, e o seu tão promissor filho D. Luíz Filipe foram mortos como numa batida “às feras”, para utilizar a expressão de D. Manuel II. D. Carlos tentou salvar um modelo de Monarquia, a do liberalismo, no qual a partidocracia foi ficando progressivamente dona do país e, à semelhança do que temos actualmente, “sentando-se à mesa do orçamento” num rotativismo no qual apenas mudavam as caras dos ministros mas tudo ficava na mesma. A vantagem para o que temos actualmente era que, pelo menos, havia um chefe de Estado isento, visto que não provinha dessa maldita partidocracia nem lhe devia quaisquer favores. A partir do momento da imposição da república passou a ser um total “fartar vilanagem”, não havendo limites à delapidação do dinheiro dos contribuintes e ficando os portugueses totalmente à mercê da classe política. Quando pensamos na natural classe, distinção, humildade e sobretudo formação moral dos nossos Reis e pensamos na mediocridade e no patético dos nossos “reizinhos laicos”, sentados no seu “trono de pechisbeque” (expressão genial do MCB) em Belém, vemos bem o quanto passamos de cavalo para burro. D. Carlos procurou reformar uma Monarquia que também tinha sido imposta ao país com as guerras liberais e com a qual este no fundo não se identificava, o que explica que, apesar de ultra minoritários, os republicanos tenham tomado o poder perante uma apatia geral apenas perturbada pelo exemplo do indómito Paiva Couceiro. Hoje na III República temos uma situação muito semelhante à da I, daí o peso do Estado que temos consubstanciado na SEMPRE crescente despesa pública, mal para o qual os governos a única solução que têm é esmagar-nos com cada vez mais impostos para poderem dizer, como é o caso do actual, que essa despesa pública diminuiu, se bem que só em termos relativos. Só um regime estruturado no respeito pelo sábio princípio da subsidiaridade, em vez do regime jacobino de direcção central que temos, poderá resolver os problemas das nossas finanças públicas. A estrutural incapacidade do actual regime de resolver este mesmo problema levará à sua inevitável queda e quanto mais tarde esta ocorrer mais desertificado estará o nosso país, económica e humanamente, e que, de momento, se encontra em total autofagia, isto é, a ser devorado pelo seu próprio Estado.

REPÚBLICA ASSASSINA! (memória e denúncia)

Blogosfera
No Alma-Pátria - Pátria-Alma:
Regicídio 1908-2007

No Combustões:
99 anos sobre o crime do Terreiro do Paço (I)
99 anos sobre o crime do Terreiro do Paço (II)
99 anos sobre o crime do Terreiro do Paço (III)
99 anos sobre o crime do Terreiro do Paço (IV)
99 anos sobre o crime do Terreiro do Paço (V)
99 anos sobre o crime do Terreiro do Paço (VI)

No Incontinentes Verbais:
Mataram El-Rei: Mataram o meu Filho

No Nonas:
Regicídio 1908-2007

N' O Pasquim da Reacção:
99 anos

No Portas do Cerco:
Há 99 anos a Maçonaria mandou assassinar o Chefe de Estado e o Príncipe Regente de Portugal - Estaremos presentes amanhã no Terreiro do Paço!
Jacobinos, Republicanos e Maçonaria - Terroristas sanguinários


No Relações Internacionais:
Dia da Memória

No Reverentia:
99 anos...

No Sobre o Tempo que Passa:
1 de Fevereiro de 1908. Nunca há actos de violência menos violentos do que os estados de violência

Sites
Centenário do Regicídio

(em construção)